Meristemas
Lembro-me da minha primeira aula de Botânica e .. Fisiologia Vegetal? (quase todas as nossas disciplinas eram duas: Mesologia e Meteorologia Agrícolas, Topografia e Elementos de Geodesia, Química Geral e Analises, etc.). Como fui dos primeiros a entrar pude escolher uma das carteiras mais afastadas, no canto extremo da sala. A espera que o Prof. João de Carvalho e Vasconcellos iniciasse a sua aula. Ele era o primeiro a chegar e disseram-me que um dia, farto de ser interrompido por cada retardatário que ia entrando, exclamou decidido “a partir de hoje, depois de entrar o último aluno, já não entra mais ninguém”.
Como se lembram, O Prof. Vasconcellos, mais conhecido entre a malta por Prof. Joãozinho, mantinha sempre aquele timbre monocórdico, parco em decibéis, tanto é que as suas ondulações sonoras mal chegavam à última fila da bancada, onde me encontrava. E certamente aquela ordem do Joãozinho, alto e bom som, deve ter soado à berraria aos que se preparavam para a sonolência. As aulas de Botânica, infelizmente, coincidiam com a hora da sesta, depois do almoço e um copo de vinho. E ainda para mais, quando os temas nada tinham de atractivo: a taxionomia botânica e a chave dicotómica, o complicadíssimo ciclo de Krebs e as diferenças entre os meristemas primários e secundários, que depois eram matéria das aulas práticas, com microscópio, ao cuidado do Prof. Miguel Pereira Coutinho. Tínhamos de saber se as células eram primárias ou secundárias. Se não me falha a memória, a diferença residia no cumprimento das células, mais alongadas nos meristemas secundários, e na existência de vacúolos, que não se vêem nas células dos meristemas primários.
Talvez para combater a sua sonolência, um aluno mais antigo, tinha escrito sobre a tampa da carteira, à tinta azul sobre partes raspadas na madeira escura, o seguinte verso de que me lembro bem, tantas vezes sentei na mesma cadeira:
Sentado aqui neste cantinho
Ouvi uma aula do Joãozinho.
Na vida de um meristema,
Por mais primário que o tomem,
Há sempre uma célula marota
Que escapa ao olho do homem.
Venâncio Machado 15 de Agosto de 2011
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