Casa do Ribatejo 65

Casa do Ribatejo 65
Casa do Ribatejo 65

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Destaque - Português cafeicultor em Angola,no Brasil, aos 92 anos é homenageado

Cafeicultor João Barata é homenageado pela Prefeitura de Luís Eduardo Magalhães (1)

A história de vida, a ousadia e a visão de futuro do cafeicultor João Barata, pioneiro no cultivo do café na região Oeste da Bahia, mereceram homenagem da Prefeitura de Luís Eduardo Magalhães nesta quinta-feira, 2, durante a Bahia Farm Show. O prefeito Humberto Santa Cruz entregou uma salva de prata ao empresário e produtor rural Luiz Antônio Canssanção, que na ocasião representou o senhor João Barata. O homenageado não pode estar presente, porque está em Portugal, onde também receberá mérito do Governo Português, no próximo dia 7.
O senhor João ficaria muito honrado com essa atitude da Prefeitura. Como produtor, ele difundiu a cafeicultura para toda a região, disse Luiz Antônio.
João Barata, hoje com 92 anos, chegou por aqui aos 70, com o sonho de plantar café. Para o prefeito Humberto Santa Cruz reconhecer a importância dele para o agronegócio luiseduadense é uma maneira de agradecer tudo que o agricultor proporcionou ao município. Senhor João Barata é um exemplo de vida, de alguém que acreditou no sonho e que, aos 70 anos, veio de outro país para nossa região com um desafio, relembrou complementando: se hoje temos produtores de café no nosso município e se temos cerca de 15 hectares do grão em Luís Eduardo , devemos isso à iniciativa de João Barata.
João Lopes da Assocafé – Associação dos Produtores de Café da Bahia compartilha da mesma opinião. Segundo ele, João Barata mostrou a região para o restante do Brasil, e por causa do sucesso de sua propriedade atraiu outros produtores. “Ele plantou uma semente que estamos cultivando”, destacou.
História – O português João Barata trouxe o primeiro cultivo comercial do café no Oeste baiano, em 1994. Ele coordenou a plantação à época, trazendo de Angola a experiência de produzir café irrigado, dando inicio ao novo ciclo do café na Bahia.
Em Angola , muitos colegas agrónomos conheceram o João Barata, principalmente os que trabalhavam no Instituto do Café de Angola
 
(1) Luís Eduardo Magalhães é um município brasileiro do estado da Bahia. Sua população estimada em 2008 era de 48.977 habitantes. O município é povoado de baianos, goianos e paranaenses.
O município de Luís Eduardo Magalhães era antes um pequeno povoado denominado Mimoso do Oeste, que passou em 3 de dezembro de 1987 a ser distrito de Barreiras. Através da Lei n° 395/1997, em 17 de novembro de 1998, passou a denominação atual, para após referendo, decorrente de um projeto elaborado pela então deputada estadual Jusmari de Oliveira, transformar-se no município, cujo nome remete ao falecido deputado, filho do Senador Antônio Carlos Magalhães, em 30 de março de 2000, pela Lei 7619/00.

Dia Aberto dedicado às plantas aromáticas e medicinais

Convite
Construir redes de conhecimento e cooperação

Universidade de Évora - Núcleo da Mitra, 14 de Dezembro de 2011

A ADCMoura e o ICAAM - Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas têm o prazer de o(a) convidar a participar no Dia Aberto dedicado às plantas aromáticas e medicinais na Universidade de Évora, a ter lugar no dia 14 de Dezembro, quarta-feira, das 10 às 17 horas, no Núcleo da Mitra da Universidade de Évora.

Pretende-se com este encontro informal, apoiado pelo Projecto MEDISS – MEDiterranée Innovation Senteurs Saveurs (Programa MED, co-financiamento FEDER), contribuir para o aprofundamento das ligações entre a Universidade e as empresas da fileira das plantas aromáticas e medicinais, em favor do desenvolvimento sustentado do sector no Alentejo e no país.

Contar-se-á com a participação de produtores, investigadores e outros actores da fileira na partilha de informação, projectos e recursos disponíveis. Pretende-se assim a construção de dinâmicas em parceria que resultem da identificação das principais necessidades do sector da produção.  

Haverá igualmente oportunidade para mostra de produtos, materiais informativos ou outros, ligados às plantas aromáticas e medicinais, que os participantes queiram trazer.

Pode desde já realizar a sua inscrição – gratuita, mas obrigatória - neste Dia Aberto, através de formulário online (Clique aqui). Notamos que a aceitação da sua inscrição se encontra sujeita a um número limite de lugares. O programa detalhado, assim como o valor e modo de inscrição no almoço (para quem queira nele participar), serão brevemente divulgados.

E, por favor, não hesite em contactar-nos, na necessidade de quaisquer esclarecimentos adicionais, pelos meios indicados em baixo.

Despedimo-nos, com os melhores cumprimentos, em nome das entidades organizadoras.


Ana Elisa Rato
Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas (ICAAM)Departamento de Fitotecnia
Universidade de Évora - Núcleo da Mitra
Apartado 94 7002-554 ÉVORA Portugal
T 266760800 | aerato@uevora.pt | http://www.icaam.uevora.pt/
Clara Lourenço
ADCMoura - Associação para o Desenvolvimento do Concelho de Moura
Tv. Misericórdia, 4, 1º, 7860-072 MOURA - PORTUGAL
T +351 285254931 | F +351 285253160 | adcmoura@adcmoura.pt | www.adcmoura.pt
clara.lourenco@adcmoura.pt | Skype ID: clara.adcmoura

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Cantorias para recordar o curso de agronomia por Carlos Bobone

Ora Viva!
Estes versos foram feitos para almoços de colegas que temos vindo a realizar há vários anos, alguns no restaurante da minha filha na Castanheira do Ribatejo.
Há mais mas são mais específicos dirigidos aos anfitriões dos almoços e por isso com menos interesse global.
Vamos a ver se consigo ir ao próximo encontro desde que não seja em datas de anos de netos.
Mais uma vez obrigado pelo trabalho realizado pois todos me dizem que foi muito giro e correu muito bem.
Até breve. Saudades e desejos de tudo de bom
Carlos Bobone
11-11-21

Carlos Bobone
clica no link para leres e cantares as cantorias

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Curiosidades Agronómicas-Viabilidade ambiental das hortas urbanas enquanto espaços para o desenvolvimento sustentável

por Rute Pinto, Cristina Ribeiro, Pedro Simões, António Bento Gonçalves & Rui Ramos


As hortas urbanas constituem espaços de usos múltiplos, enquanto espaços verdes, espaços de alimentação, espaços de economia e espaços de economia e lazer, fundamentais ao desenvolvimento de qualquer cidade que se pretende sustentável. Como forma de avaliar a viabilidade ambiental das hortas urbanas da cidade de Braga foram realizadas análises a amostras de alfaces e de solos. Os resultados analíticos permitiram identificar problemas de contaminação pelos metais pesados Cádmio, Chumbo e Zinco.

O desenvolvimento sustentável enfatiza a impossibilidade de um crescimento contínuo num planeta finito e a necessidade de preservar os recursos naturais e ambientais de modo a que as gerações futuras disponham do máximo de opções para maximizar o seu bem-estar e qualidade de vida. Criar uma cidade sustentável deve passar por incorporar a dimensão do ambiente no desenvolvimento denso e complexo da urbe. As hortas urbanas pela sua natureza, constituindo espaços de agricultura urbana com usos múltiplos, enquanto espaços verdes, espaços de alimentação, espaços de economia e espaços de recreio e lazer, são fundamentais ao desenvolvimento de qualquer cidade que se pretenda sustentável. Em Portugal, a cidade de Braga apresenta um número significativo de hortas urbanas, que representam resquícios da vida rural intensamente vivida no município e que se mantêm num centro urbano cada vez mais densamente urbanizado. No entanto, pela dimensão urbana que alcançou, a cidade de Braga pode apresentar problemas de contaminação e poluição típicos de cidades de média/grande dimensão. Como forma de avaliar a viabilidade ambiental das hortas urbanas para usos múltiplos, enquanto espaços para o desenvolvimento sustentável, foram realizadas análises químicas a amostras de alfaces e de solos de hortas urbanas e não urbanas de Braga. Os resultados analíticos mostraram que a viabilidade ambiental das hortas urbanas pode estar comprometida, sobretudo como espaços de alimentação, pois foram identificados problemas de contaminação pelos metais pesados Cádmio, Chumbo e Zinco. Urge pois melhorar a qualidade ambiental urbana que condiciona a utilização agrícola das hortas urbanas de Braga, sendo apresentadas algumas propostas para melhorar o seu uso e minimizar os riscos para a saúde pública. 

leia o estudo "Viabilidade ambiental das hortas urbanas enquanto espaços para o desenvolvimento sustentável" na Revista  da APH  nº 106  , Julho-Agosto-Setembro 2011, da Associação Portuguesa de Horticultura

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A PROBLEMÁTICA DA CLASSIFICAÇÃO E DA NOMENCLATURA TAXONÓMICA DAS PLANTAS

 A            José Alves Ribeiro, Prof.Emérito-UTAD



                     

         Teofrasto (380-287 A.C.), discípulo de Aristóteles, é considerado o mais clássico patriarca da botânica. Os seus escritos, baseados nas suas observações da natureza, incluem livros como "Historia Plantarum" e "De Causis Plantarum", escritos em grego e mais tarde, traduzidos em Sírio, Árabe e Latim.
         Reconhece distinções entre mono e dicotiledóneas, ovários em posição súpera (acima da base das pétalas) e ínfera em diversas flores, sendo também o primeiro a reconhecer a polinização e a sexualidade nas plantas.
         Descreveu 500 espécies vegetais o que só por si representa um grande pioneirismo científico no espírito da época.
         Quatro séculos mais tarde Dioscorides descreve 600 espécies de plantas e meio século depois deste, Plínio o velho  escritor romano do 2º século depois de Cristo, descreve cerca de 1000. Na idade Média há que realçar Alberto Magno (1193-1280) como um dos maiores colectores de plantas de toda a Europa, numa época em que foram os monges no recolhimento dos seus conventos quem mais se dedicou ao estudo das plantas e das suas aplicações na herbanária medicinal, no fabrico de licores, etc.
         Na Renascença sobressaem nomes como Dadoens, Obel, Ecluse (Clusius) Dela Porta, Frei Mutis, Oviedo y Valdez (espanhóis) e Garcia da Orta e Frei Cristovão de Lisboa (portugueses) isto para falar só dos europeus, pois também os árabes deram nessa época grande deenvolvimento à Ciência Botânica pela sua ancestral sabedoria sobre plantas aromáticas e medicinais, salientando-se nomes como Avicena, Avenzoar e
Ibn-el-Beithar, que eram, no seu tempo, célebres médicos e herbalistas.
         A problemática da classificação e da nomenclatura tornava-se entretanto cada vez mais complicada, até porque não havia ainda uma sistematização aceite internacionalmente e o rigor científico acerca dos parâmetros em que se baseava a botânica era ainda algo empírica e rudimentar.
         John Parkinson (1569-1629), botânico e farmacêutico londrino, organizou um catálogo hortícola no seu livro "Paradise in sole" publicado em 1628 em que o próprio autor se lamenta da confusão de nomes e de significados dados às plantas nas consultas que fez, para a elaboração desse catálogo, a horticultores, boticários e herbanários do seu tempo.
         São consideados dois períodos em relação ao percurso da botânica como ciência.
         No período dos herboristas ou herbalistas (séc. XVI e princípios do séc. XVII), as plantas eram classificadas pela sua utilidade prática. Os herbaristas mais famosos foram os alemães Otto Bruntels, Jerome Bork e Leonhart Fuchs que se dedicaram à botânica principalmente pelos usos das plantas na agricultura e na herbanária medicinal. A seguir vem o período dos proto-sistematas em que a classificação dos vegetais já obedecia a aspectos morfológicos, embora ainda sem grande rigor científico. Salientam-se nesse período os seguintes botânicos: Andrea Cesalpin, italiano (1519-1602); Joachim Yung, flamengo (1587-1657), D. H. Burckart, alemão (1676-1738), Clusius, Morrison e Tournefort.
         Clusius, botânico francês (1524-1509), Morrison, inglês (1620-1682) e logo a seguir Tournefort, francês (1656-1708) foram os antecessores, digamos assim, da taxonomia botânica, pois fizeram as primeiras tentativas para agrupar espécies vegetais que eles, pela observação, reconheciam afins.
         Destes três, o mais semelhante a Lineu no seu percurso científico, foi Charles
L' Écluse, nascido em Artois, no norte da França. Desenvolveu a nomenclatura das plantas em latim, latinizou o seu próprio nome para Carolus Clausius, (o que Lineu também virá a fazer) e publicou um livro muito curioso "Rariorum Plantarum Historia" com belas iluminuras, com figuras clássicas como Teofrasto e Dioscorides e com excelentes desenhos de plantas diversas.
         Foi contudo Carl Lineu, naturalista sueco do século XVIII (1707-1778) que também assinava o nome latinizado Carolus Linaeus, o verdadeiro fundador da Sistemática ou Taxonomia Biológica, o ramo da biologia que organiza as plantas e os animais em grupos sistematizados segundo afinidades e hierarquias. Publicou 2 tratados sobre o assunto: "Species Plantarum", em 1753 e "Sistemate Naturae" em 1756.
         Nesse sistema, os grupos fundamentais são as espécies, sendo estas agrupadas em géneros, estes em famílias (terminação aceae ou áceas ex: Rosáceas), as famílias em ordens (terminação ales ex: Rosales) e finalmente as ordens em classes (Monocotiledóneas e Dicotiledóneas) e estas em Divisões. Baseou os agrupamentos e as afinidades das plantas na estrutura floral (número, disposição e tipo de estames e de carpelos), o que foi de facto genial, pois a Genética e a Evolução, Ciências que aliás só se desenvolvem um século mais tarde, vieram provar que é na estrutura floral e frutificativa que as plantas definem a sua directriz, a sua estratégia filogenética e evolutiva, sendo portanto mais características de cada grupo e não a forma dos caules e das folhas, aspectos muito mais variáveis e inconsistentes sob o ponto de vista taxonómico, sendo usados apenas a título complementar.
         Lineu estabeleceu também uma regra de ouro da Taxonomia: a nomenclatura binomial das espécies, isto é cada espécie vegetal ou animal tem um nome científico que não é uma só palavra mas sim duas: O primeiro nome é o nome do género e o segundo nome é o denominado atributo específico, ou seja é o que identifica aquela espécie dentro do género em que está inserida.

Exemplos: trigo: Triticum aestivum L.
                                  abelha: Apis melifera L.
         Nessa regra de nomenclatura científica ficou também definitivamente estabelecido - o que aliás já os referidos antecessores vinham fazendo - que esses nomes seriam em latim ou palavras latinizadas.
         Existem convenções internacionais e regras estabelecidas para os critérios e seguir em relação ao registo de espécies novas ou à alteração da classificação taxonómica de qualquer espécie que se prove estar incorrectamente enquadrada (por exemplo provando-
-se que estará melhor inserida noutro género).
         Os nomes científicos levam à frente desse duplo nome latinizado o nome ou a abreviatura do classificador. É vulgar vermos nessa posição a letra L. que significa Lineu, ou seja essas são espécies já classificadas por esse grande cientista do séc. XVIII.
Exemplo: Quercus suber, L. Sobreiro
Exemplos de outras abreviaturas - L. f. - Lineu filho
                                                       D. C. - De Candolle
                                                       A. Br. - Alexander Braun
                                                       Wilk. - Wilkomen
         Mas também são relativamente frequentes os casos em que as espécies foram entretanto reclassificadas e então surgem dois apelidos vindo o do primeiro classificador entre parêntesis:
Exemplos: Macela dourada - Chamaemelum nobile (L.) All.
                 Salsa - Petroselinum crispum (Miller) A.W. Hill
         Toda esta introdução serviu para nos situarmos melhor na complexa problemática da nomenclatura das espécies, tanto maior quanto mais conhecidas elas são, pois as plantas daninhas, as plantas medicinais e condimentares, certas árvores e arbustos mais vulgares, e muitas das plantas de jardim (plantas ornamentais) possuem diversos nomes vulgares por vezes até variando com as regiões, e obviamente com a língua de cada nação. Daí a vantagem dos nomes científicos em que há só um aceite universalmente para cada espécie. É o tal nome duplo em palavras latinas ou latinizadas, em que os nomes dos géneros e os dos atributos específicos provêm de diversas origens semânticas conforme os casos:
         a) Podem significar aspectos morfológicos das respectivas plantas:
Ex: a1 Trifolium - género a que pertencem os trevos, e que significa "três folhas", pois os trevos têm as folhas subdivididas em três folíolos.
               a2 Acacia longifolia (Andrews) Willd.(acácia de folhas alongadas)
                                               
               a3 Adonis microcarpa D.C. (planta de frutos-carpos-minúsculos)
b) Podem ser nomes vulgares latinizados, sobretudo certos nomes muito divulgados em toda a Europa e semelhantes nas diversas línguas.
c) Podem estar conotados com regiões ou países de onde essas espécies são originárias
Ex: c1 Dianthus lusitanius Brot. (cujo classificador foi o grande botânico potuguês do séc. XVIII Avelar Brotero)
      c2 Armeria transmontana (Samp.) Laurence
      c3 Festuca brigantina Markgr. - Dannemb
d) Podem ser nomes de homenagem a botânicos célebres ou o nome do próprio botânico que descobriu, e eventualmente descreveu e classificou essa espécie.
Ex: d1 Malva tournefortiana L.(homenagem a Tournefort, botânico francês já referido atrás)
d2 Welwitchia mirabilis Hook-nome científico de uma gimnospérmica raríssima e arcaica só existente no deserto da Namíbia e Moçamedes e descoberta para a Ciência Botânica pelo alemão Welwitch.
e) Podem estar conotados com secreções ou essências elaboradas pelas respectivas espécies.
Ex: e1 Mentha piperita  L. (hortelã-pimenta), secretora de mentol
e2 Pistacia terebinthus L. espécie secretora de terebentina
e3 Lactuca sativa L. (alface) - secretora de latex (como todas as leitugas, enfórbias, figueiras e outras)
         Também a seringueira (Hevea brasiliensis Muell.), a árvore da borracha existente na Amazónia, é produtora de latex. matéria-prima da borracha natural.
         Em relação aos nomes latinos, existem regras derivadas do próprio latim (caso das declinações) e por exemplo vocábulos relaccionados com a flor podem surgir diversos, devido às referidas declinações:
         nominativo - flos (a flor-sujeito)
acusativo - florem (a flor-predicado)
genitivo - floris (da flor)
dativo - flori (para a flor)
ablativo - flore (do ou a partir da flor)
e no plural será respectivamente flores, flores, florum, floribus e floribus.
         Aconteceram naturalmente alguns fenómenos linguísticos curiosos ao longo dos tempos, como por exemplo translacções de conceitos e de vocábulos entre os nomes botânicos (nomes científicos usados quase exclusivamente pelos cientistas e estudiosos) e os nomes vulgares usados no dia a dia por toda a gente. É o caso da vulgarização de nomes científicos de plantas exóticas introduzidas como ornamentais como por exemplo a esterlícia, (de Sterlitzia sp.) ou a gerbera, que é exactamente o mesmo nome botânico (Gerbera  sp.).
         Também se passou o contrário, pois muitos nomes científicos foram a latinização de nomes vulgares já há muito divulgados em países da Europa e por vezes até muito semelhantes nas diversas línguas.
         Existem casos da confusão no que respeita a estas conotações entre os nomes científicos e os nomes vulgares. É o caso do rosmaninho.
         - Nome científico do rosmaninho:
                       Lavandula pedunculata L.
- Nome científico do alecrim: (arbusto da mesma família botânica do rosmaninho e que é a família das Labiadas ou Labitae):
              Rosmarinus officinalis L.
         Houve claramente uma troca de vocábulos entre a designação das duas espécies . Quanto a isto os bragançanos estão isentos de culpa pois possuem um regionalismo próprio para o rosmaninho que é um vocábulo com outra origem: arçã.
         Já agora vamos saber o significado do atributo específico officinalis, relativamente frequente em plantas aromáticas e medicinais: officinalis vem de oficina ou botica, isto é bem identificativo de plantas desde há muito usadas como medicinais. Também o vocábulo Lavandula significa usada para lavagens ou seja para banhos, e de facto a alfazema (Lavandula officinalis L.), planta do mesmo género do rosmaninho, fora muito usada para perfumar os banhos desde o tempo dos romanos.
         Muitos outros nomes são frequentes e dizem respeito à utilização ou utilidade das respectivas espécies:
a) Esculenta, esculentum ou esculentus significam comestível, assim como culinária.
Ex: Cyperus esculentus L. juncinha - planta daninha cujos tubérculos são comestíveis.
        Manihot esculenta Crantz - mandioca
Lycopersicum esculentum Miller - tomateiro
Lens culinaria Medicus - lentilha
b) Sativa, sativum ou sativus significam cultivada
Ex: Vicia sativa L. - ervilhaca
Pisum sativum  L. - ervilha
Ornithopus sativus Brot. - serradela
c) Arvensis e campestris significam plantas dos campos:
Ex: Veronica arvensis L.
Luzula campestris (L.) D.C.
e nestes casos estão muitas das plantas infestantes ou ervas daninhas das culturas agrícolas, com a ressalva que não deixaremos de aqui registar, de que muitas das denominadas ervas daninhas são, ou podem ser, plantas úteis, pois muitas delas são potenciais forrageiras, medicinais, condimentares ou melíferas. Talvez devessemos alterar a imagem demasiado negativa que, por tradição, vai pesando sobre este grupo de plantas, aliás geneticamente muito evoluído e competitivo.
         Quanto a nomes correlacionados com as secrecções das plantas, já referimos o caso das hortelãs, poêjos e mentastros (género Mentha) secretoras de mentol, e podemos referir o caso da erva-pata (Oxalis pes-caprae L.) rica em ácido oxálico, infestante com origem na África do Sul, também conhecida por trevo-azedo, isto porque tem as folhas trifoliadas como os trevos e um sabor muito acre (nem o gado o come) devido ao referido alto teor em ácido oxálico. Aí está um caso em que o nome vulgar de uma planta está correlaccionado com semelhanças morfológicas com outra espécie. Aliás alguns dos próprios nomes científicos usam essas comparações:
Ex: Casuarina equisetifolia Forst. - (Casuarina com folhas semelhantes ao Equisetum que é uma planta herbácea conhecida por erva-pinheirinha)
Dianthus laricifolius Boiss. et Reuter - Cravina com folhas semelhantes ao larício.
Devo lembrar que na nomenclatura científica da Taxonimia não é apenas o latim a língua base, pois também o grego tem forte presença, embora em segundo plano. Vamos dar dois exemplos de nomes botânicos com base na língua grega, curiosamente dois nomes que são sinonímias da mesma espécie, a vulgar carqueja – Chamaespartium tridentatum (L.) P.Gibbs e Pterospartum tridentatum ( L.) Willk. Chamae significa rasteiro e ptero significa asa, ou seja a carqueja é um arbusto – spartum  - rasteiro e de caules alados.
         Mas há mais casos interessantes em relacção aos nomes das plantas:
a - Por vezes nomes menos conhecidos e mais restritos a certas regiões (regionalismos), considerados mais rústicos, são paradoxalmente os mais próximos dos nomes científicos: é o caso do vulgar medronheiro, também conhecido em Trás-os-Montes e Alto Douro como êrvodo ou êrvedo, vocábulo conotado com o nome científico Arbutus unedo L.
b - É muito curiosa a maneira de nomear certas plantas condimentares e medicinais, correlacionando-as imaginosamente com outros aspectos da utilização das coisas: caso do tomilho vulgar (Thymus zygis L.) que é conhecido na região bragançana e mirandesa como sal-puro ou sal-purinho - a correlacção com o facto de poder ser um sucedâneo do sal na condimentação da comida. No fundo um sal da terra.
c - Também como proveniente da terra o nome da planta medicinal Centaureum erythrae Rafn. -fel-da-terra- e fel devido a que, sendo boa para doenças do foro digestivo, tem, como medicamento, um sabor bastante amargo.
d - Aliás muitas plantas medicinais tem nomes relaccionados com as receitas e os usos ancestrais no tratamento de males e doenças. Caso da erva-das-sete--sangrias (Lithodora postrata (Loisel.) Griseb ou com a herança conventual dessa antiga sabedoria, caso da erva-de-S.Roberto, aspecto aliás transferido para o próprio nome científico - Geranium robertianum  L.
e - Muitos nomes de aldeias, vilas e cidades vêm de nomes de plantas:
Avelêda, Carqueijal, Carrascal, Carrazêdo, Carvalhal,  Ervedêdo, Ervedosa, Estevais, Feteira, Torguêda, Fiolhoso, Souto, Funchal, Olmos, Reborêdo, Rosmaninhal, Sanguinhêdo, Sobrêda, Soutelinho, Soutelo, Teixêdo, Tojeira, Troviscal, Urgeiriça, Zambujal, Zimbreira, etc. e seria bom que essa toponímia fosse melhor conhecida, até dos próprios habitantes dessas povoações, para assim terem melhor consciência cultural das suas próprias "raízes".
         Finalmente não poderei rematar esta pequena resenha sem chamar a atenção dos leitores para a necessidade premente da preservação deste património ao mesmo tempo cultural e ecológico, que é o da botânica, quer no seu contexto de reino da natureza tão mal conhecido e mal estudado nas escolas portuguesas e tão mal tratado nos seus diversos ecossistemas onde a flora e a fauna andam tão mal acarinhadas, no dia a dia "bárbaro" do nosso país, quer no contexto linguístico, para o qual este humilde artigo tentou chamar a atenção. Bem hajam pela vossa leitura.

Bibliografia
J. Vasconcellos, 1950. Botânica Agrícola. Ed. D.G.S.A. - Ministério da Economia.
Oliveira Feijão, 1960. Elucidário Fitológico. Ed. Intituto Botânico de Lisboa.
Fátima Rocha, 1979. Nomes vulgares e botânicos de plantas infestantes.
Ed. D.G.P.P.A. - Ministério da Agricultura.
Tutin et al., 1980. Flora Europae. Ed. Cambridge Univ. Press.
J.A. Franco, 1971 e 1981. Nova Flora de Portugal. Ed. do autor.
Gledhill, 1985. The names of Plants. Ed. Cambridge Univ. Press.
Pio Font QUer, 1990. Plantas medicinales. Ed. Labor.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Curiosidades Agronómicas- Projeto valoriza resíduos de azeite e cortiça

TECNOLOGIA -  Projeto português valoriza resíduos de azeite e cortiça




Juntar pó de cortiça com os resíduos e efluentes da produção de azeite foi a receita desenvolvida pelo investigador João Claro para a produção de biomassa de alto valor energético. Em Março do próximo ano será inaugurado o protótipo industrial do projecto BioCombus.
A expressão popular “juntar o útil ao agradável” assenta perfeitamente ao projeto “BioCombus”, liderado pelo docente da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, João Claro. Isto porque a investigação permite resolver problemas de tratamento de resíduos das industrias do azeite, valorizando-os num novo produto de elevado potencial energético. Explica o docente que« estava  a trabalhar na indústria da cortiça e a explorar as propriedades do pó de cortiça, um resíduo com propriedades agregadoras e de absorção de componentes orgânicas». Ao mesmo tempo outros investigadores dedicavam-se a investigações relacionadas com os lagares. Porque não então juntar os resíduos e efluentes das duas indústrias?
Numa primeira fase, o processo prevê a mistura entre o pó de cortiça e o bagaço húmido, que é o principal resíduo dos lagares. Daí resulta uma « pasta moldável» com resultados dados como biomassa. Como o produto é moldável, os investigadores têm optado por fragmentá-lo em pequenos pellets, com um potencial energético que chama a atenção. João Claro destaca que « os resultados que obtivemos são superiores em 20 por cento, aos pellets que se encontram no mercado», embora os resultados definidos apenas possam ser estabelecidos quando o projeto entrar na sua fase industrial.
Apesar da legislação comunitária apertada, o que levou muitos lagares fechassem, o investigador avalia que a maioria dos efluentes da produção de azeite seja ilegalmente encaminhada.
Num reconhecimento da componente ambiental e inovadora do projeto, o “Biocombus” foi um dos galardoados nos Green Project Awards 2011, uma iniciativa da CGI em parceria com a Agência Portuguesa do Ambiente e a Quercus, na categoria Investigação & Desenvolvimento.


Fonte: jornal «água&ambiente» de Novembro de 2011

ISA INOVISA INCUBADORA DE EMPRESAS

ESPAÇOS DISPONÍVEIS NA INOVISA - INCUBADORA DE EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA

A INOVISA aumentou recentemente as suas instalações, pelo que tem actualmente espaços disponíveis para alugar a empresas ou start-ups de base tecnológica ou prestadoras de serviços qualificados, afirmando-se como uma incubadora de base científica e tecnológica na sua área de actuação, nomeadamente nas áreas agrícola, alimentar, florestal, biotecnológica e ambiental.


Uma vez que os espaços disponíveis são em número reduzido, os projectos candidatos terão que passar por um processo de selecção com base em informação enviada através do Formulário de Candidatura da INOVISA.


Assim, todos aqueles que estejam interessados em receber o apoio da INOVISA para a criação ou lançamento do seu projecto empresarial, negócio ou empresa, poderão utilizar os contactos abaixo mencionados.


Mais informações:
Cristina Mota Capitão
Gabinete de Empreendedorismo e Desenvolvimento Empresarial
Tel.: 21 363 24 95 / 21 365 35 51
Fax: 21 363 02 84
E-mail: cmotacapitao@isa.utl.pt ou inovisa@isa.utl.pt
Site: http://www.inovisa.pt/

terça-feira, 15 de novembro de 2011

O Instituto Superior de Agronomia na Segunda Metade do Século XX

                                                                                                                                                                      Autores: António Monteiro Alves, Fernando Luís Estácio, Ilídio Moreira e Edgar de Sousa
2007 / ISBN: 978-972-8669-26-3
487 pp. 1000 ex.


















Nota: 4 exemplares desta excelente publicação foram oferecidos na Confraternização do início do jubileu da turma ISA 61



Tapada da Ajuda, 1349-017 Lisboa.

Telefone: 21 365 35 13 (Ext. 3513)
Fax: 21 365 31 95 

ISA CHALLENGE reforçar a ligação do meio empresarial ao Instituto 18 novembro 2011

No ano em que se comemora o centenário do Instituto Superior de Agronomia (ISA), com o objectivo de reforçar a ligação do meio empresarial ao Instituto e o networking entre antigos alunos, a alumnISA, a INOVISA e o ISA organizam o evento ISAChallenge.
O ISAChallenge promete ser um evento cheio de surpresas, provocações e entretenimento. O objectivo maior é suscitar a criação de uma comunidade out of the box, com vontade de mudar, inovar e fazer mais e melhor pelo nosso país…
consulte o programa em http://www.isa.utl.pt/home/node/4686

II Ciclo de Conferências - "Sustentabilidade e Empreendedorismo - Um passo para o futuro"

Ciclo de conferencias divido por dois dias e que aborda a "Sustentabilidade e o Empreendedorismo nas Ciências Agrárias".
Contará com a presença da Engª. Teresa Sezinando da Bayer CropScience, o Eng. Pedro Mogo do Grupo Hubel e o Eng. Jerónimo Pinto, consultor em várias empresas. Estes iram falar sobre o papel da industrias farmacêutica, a cultura de pequenos frutos em sistema hidropónico e as carnes de bovino ricas em omega-3, respectivamente.


Programa:


16 de Novembro
15h - A indústria fitofarmacêutica - Sua missão e preocupações - Engª. Teresa Sezinando (Bayer CropScience)


17 de Novembro
16h - Produção de pequenos frutos em sistema de hidroponia - Eng. Pedro Mogo (Grupo Hubel)
17h15 - Carne de bovino naturalmente rica em ómega-3 - Eng. Jerónimo Pinto


Contamos com a tua presença no Salão Nobre do Instituto Superior de Agronomia

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

ORIGEM, CARACTERIZAÇÃO BOTÂNICA E DIFUSÃO DA PLANTA DO CHÁ [Camellia sinensis (L.) O. Kuntze] José A Ribeiro UTAD - DPP


Plantação de Chá de Camellia sinensis, Ribeira Grande,ilha de São Miguel, Açores
                                 
I - Caracterização botânica

A planta do chá ou chazeiro é uma espécie com o nome botânico de Camellia sinensis (L.) O. Kuntze, da família botânica das Teáceas, aparentada com a camélia, cameleira ou japoneira - Camellia japonica L. , um arbusto ornamental muito cultivado em jardinaria, sobretudo no Norte do nosso país, tendo ambas essas espécies do género Camellia origem na Ásia Oriental.
O género Camellia caracteriza-se por ser um género de espécies arbustivas, de folhas alternas curtamente pecioladas, de flores com cálice e corola pentámeros espiralados, sendo as pétalas um pouco coalescentes na base e de cor branca; a flor contém numerosos estames agrupados em feixes e, quanto à parte feminina, a flor contém um gineceu tricarpelar com 3 lóculos e 3 óvulos, um em cada lóculo. O estigma é trilobado e o fruto é uma cápsula loculicida com 3 sementes, uma inserida em cada lóculo.
A família das Teáceas (também designadas por Cameliáceas ou ainda por Ternstroemiáceas), insere-se na ordem das Parietales, sub-ordem das Teíneas, o que as aparenta com as Actinidiáceas, com as Guttíferas ou Hypericáceas e com as Dipterocarpáceas.
É uma família botânica pan-tropical e sub-tropical com cerca de 30 géneros e 500 espécies, das quais 200, de 10 géneros são americanas, mas os géneros mais vastos são asiáticos como Eurya ( de flores unixesuadas ), Ternstroemia, Adimandra, Stevaria ( caducifólia ), Cleyra e Camellia.


II - ORIGEM DO CHÁ

Em relação à origem exacta da planta do chá ou chazeiro, alguns autores indicam as cordilheiras de montanhas entre Yunnan (na China) e Assam (na Índia) mas estudos mais recentes de Hasimoto indicam uma área mais alargada compreendendo a China, o Japão, Burma, Índia e outras regiões da Ásia Oriental.
Os portugueses quando contactaram com esses povos do Oriente conheceram a bebida do chá, já usual nesses territórios há mais de 2 mil anos. Adoptaram a designação de Cantão-tcha que deu origem à palavra chá. Outros povos europeus adoptaram a designação de Tonquim-té, e por exemplo em espanhol designa-se por té e em inglês por tea.
Só no século XVI é que esta bebida e esta planta chegaram ao conhecimento dos Europeus. A rainha Catarina de Bragança, esposa de Carlos II de Inglaterra, filha do nosso Rei D. João IV, e que permaneceu em Inglaterra de 1661 a 1693, foi a introdutora do hábito de beber chá na Corte Inglesa.


III - Tipos de Chás

A preparação do chá permaneceu num segredo durante séculos. Por isso só em 1843 se soube que os diferentes tipos de chás provinham todos da mesma planta. As diversas variedades de chás são determinadas pela procedência, pelo clima, pelas variedades cultivadas e pelo modo de selecção e preparação das folhas. Há 3 tipos fundamentais:
a) Chá branco em que as folhas colhidas dos arbustos terão de ser ainda muito juvenis, quase em clorofila. É o mais raro e o mais caro.
b) Chá Preto, em que as folhas depois de colhidas e murchas são enroladas e cortadas, o que esmaga os seus veios libertando sucos que oxidam ou «fermentam», após o que são secas.
c) Chá Verde em que as folhas são sujeitas a aquecimento em tinas a lume brando ( método tradicional chinês ) para parar a referida oxidação também chamada impropriamente fermentação.  Essa paragem da «fermentação» também pode ser feita por vapor ( método japonês ) sendo a secagem  feita a seguir e tendo-se entretanto feito o enrolamento.
d) Chá Oolong ou semi-fermentado, sendo um tipo de há intermédio entre o chá verde e o chá preto.

          Existem ainda variantes diversas conforme as origens e variedades, as adições de outras plantas aromáticas e Aida as variantes na preparação dos lotes.

IV - A difusão da planta do chá

O registo mais antigo da existência da planta do chá no território português data de 1801 e anota o seguinte: "De Angra do Heroísmo o Governador Conde de Almada mandou para Lisboa dois caixotes com plantas de chá ao Príncipe Regente D. João VI a seu pedido".
É  muito provável que por essa época já existissem plantas de chá não só nos Açores mas também no Brasil. Mas do Brasil só há registos datados de 1812, 1814 e 1816, sendo os de 1812 e 1816 ofertas de plantas ao próprio Rei D. João VI, nessa altura instalado com a sua corte no Rio de Janeiro.
Sabe-se também que o chazeiro foi cultivado na Ilha da Madeira, tendo o cônsul inglês Henry Veich estabelecido uma plantação numa sua propriedade - a Quinta do Jardim da Serra, por volta dos anos vinte desse mesmo século XIX. A cultura na ilha da Madeira desapareceu, mas nos Açores ainda actualmente se mantém. Os açorianos apostaram bastante nesta cultura no último quartel do séc. XIX tendo mesmo sido contratados dois peritos nesta cultura, vindos de Macau, por iniciativa de uma personalidade com peso político nessa época, o Conselheiro Eugénio Correia da Silva.
Na ilha de S. Miguel a cultura do chá foi-se expandindo tendo atingido nos anos 40 cerca de 120 toneladas de produção e nos anos 60 cerca de 300, numa área de 300 hectares. Apesar de  na época actual não haver senão algumas dezenas de hectares desta cultura, é um excelente chá com a prestigiada marca «Gorreana».
Quanto a Portugal Continental também há registos do seu cultivo na região do Alto Minho, dado que planta do chá exige climas amenos e algo húmidos e solos arejados e férteis, condições existentes nessa Província. E foi na região de Coura que foi realizada a primeira tentativa desta cultura por iniciativa de Gaspar Pereira de Castro em 1855 quando regressou do Brasil com um saco de sementes. A sua experiência falhou dado que, por razões familiares, teve de regressar ao Brasil abandonando a cultura, mas não sem ter dado algumas plantas a pessoas amigas das redondezas. Um dos contemplados foi João Fiúza de Matos, de Ponte de Lima que foi um dos núcleos mais importantes da difusão da cultura em Portugal Continental. Essa difusão foi mal sucedida - como seria de esperar - quando prosseguiu no sentido do Sul do País, em que o clima mediterrâneo, de cariz mais seco, não lhe é favorável. E uma Instituição mal aconselhada a fazê-lo foi a própria Casa de Bragança, que fez algumas tentativas com sementes e com plantas transplantadas de viveiros, quer em Vila Viçosa, quer na Quinta do Alfeite, em Vendas Novas e em Almada. Quase todas sem sucesso. A única plantação com algum sucesso - e tem lógica porque aí existe um microclima mais ameno e mais húmido propício às preferências ecológicas desta cultura - foi em Sintra, onde em 1882, D. Fernando II, Rei de origem alemã, viúvo de D. Maria II, mandou plantar vários pés de chazeiro com plantas provenientes dos Açores. Ainda hoje resta no Parque de Pena um local denominado "Alto do Chá" e persistem de onde em onde, por todo o Parque em pequenas clareiras, alguns pés do arbusto do chá e por sinal ainda em razoável bom estado de vigor.
Quanto ao Alto Minho, a cultura manteve-se até princípios do século XX e Júlio Henriques em 1905 publica um livro intitulado "A cultura do chá" e nele refere que o chá se desenvolve no norte da Província do Minho, onde floresce e frutifica sem cuidados especiais. Isso significaria ter ele encontrado, dispersas pela região, algumas plantas, para além duma em especial de grande tamanho e vigor a que se refere e situada em Arcos de Valdevez.
Com o tempo, a cultura do chazeiro em Portugal Continental desapareceu e, na ilha de S. Miguel, tem estado em decadência. Razões de ordem económica, sociológica ou conjuntural poderão ter determinado tal situação, porquanto se sabe que a cultura é tecnicamente possível nalgumas regiões do norte do país e não falta quem nos critique de não aproveitarmos para isso as condições naturais que possuímos e outros não iriam desperdiçar.
A nível mundial, a cultura do chazeiro ocupa actualmente mais de 2,5 milhões de hectares, com uma produção de cerca de 2,5 milhões de toneladas.
Cerca de 65% do chá produzido é consumido nos locais de produção, onde, na maioria, representa a bebida tradicional.
Os maiores produtores mundiais de chá são a Índia, a China e o Sri-Lanka, antigo Ceilão. Curiosamente foi um botânico inglês – Robert Fortune – quem trouxe sementes e rebentos de plantas de chá da China para a Índia e Ceilão, nesse tempo – finais do séc.XIX- ainda colónias britânicas. Os grandes exportadores actuas são a Índia e o Sri-Lanka e a própria China. Também é bastante cultivado na  Indonésia, sobretudo na ilha de Java, na Malásia, na  África Oriental e na América do Sul.
É de referir o lugar importante que os países árabes ocupam como importadores de chá, vedado como lhes está o consumo de bebidas alcoólicas. Os árabes, no geral seguiram como Portugal, o vocábulo «tcha».
A cultura do chá teve uma grande expansão quando os ingleses, no fim do século passado e princípios do actual, a introduziram nas suas colónias africanas e a exploraram com sucesso nas zonas de altitude, como foram os casos do Quénia, Uganda e Niassalândia. A sua experiência transmitiu-se a alguns territórios vizinhos, nomeadamente ao Ruanda--Burundi e a Moçambique. Neste território a planta foi introduzida no princípio do século XX, no Milange, pela Empresa Agrícola do Lugela, sendo a plantação orientada pelo grande negociante de chá londrino, Lipton, que aí mandou construir uma fábrica de preparação, embalagem e exportação desse produto. Também famosa é a marca "Namuli" de chás oriundos de Moçambique. Quanto à marca "Lipton", todo o mundo a conhece sendo actualmente uma multinacional no domínio dos chás. E aqui há que lembrar uma última chamada da atenção: o termo chá alargou-se a infusões de outras plantas que não só da planta do chá. Mas nesta resenha apenas tratámos do chá mais típico que é a infusão elaborada com folhas de Camellia sinensis.

BIBLIOGRAFIA
- J. Eduardo Mendes Ferrão 1992 - A aventura das plantas e os Descobrimentos Portugueses. Ed. I.I.CT. (Instituto de Investigação Científica Tropical) - Lisboa.

- L.J.H. Lawrence 1951 - Taxonomia das plantas vasculares - Ed. Gulbenkian - Lisboa.

- P. Crété - 1965 - Précis de Botanique. Ed. Masson-Paris.