Casa do Ribatejo 65

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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

ORIGEM, CARACTERIZAÇÃO BOTÂNICA E DIFUSÃO DA PLANTA DO CHÁ [Camellia sinensis (L.) O. Kuntze] José A Ribeiro UTAD - DPP


Plantação de Chá de Camellia sinensis, Ribeira Grande,ilha de São Miguel, Açores
                                 
I - Caracterização botânica

A planta do chá ou chazeiro é uma espécie com o nome botânico de Camellia sinensis (L.) O. Kuntze, da família botânica das Teáceas, aparentada com a camélia, cameleira ou japoneira - Camellia japonica L. , um arbusto ornamental muito cultivado em jardinaria, sobretudo no Norte do nosso país, tendo ambas essas espécies do género Camellia origem na Ásia Oriental.
O género Camellia caracteriza-se por ser um género de espécies arbustivas, de folhas alternas curtamente pecioladas, de flores com cálice e corola pentámeros espiralados, sendo as pétalas um pouco coalescentes na base e de cor branca; a flor contém numerosos estames agrupados em feixes e, quanto à parte feminina, a flor contém um gineceu tricarpelar com 3 lóculos e 3 óvulos, um em cada lóculo. O estigma é trilobado e o fruto é uma cápsula loculicida com 3 sementes, uma inserida em cada lóculo.
A família das Teáceas (também designadas por Cameliáceas ou ainda por Ternstroemiáceas), insere-se na ordem das Parietales, sub-ordem das Teíneas, o que as aparenta com as Actinidiáceas, com as Guttíferas ou Hypericáceas e com as Dipterocarpáceas.
É uma família botânica pan-tropical e sub-tropical com cerca de 30 géneros e 500 espécies, das quais 200, de 10 géneros são americanas, mas os géneros mais vastos são asiáticos como Eurya ( de flores unixesuadas ), Ternstroemia, Adimandra, Stevaria ( caducifólia ), Cleyra e Camellia.


II - ORIGEM DO CHÁ

Em relação à origem exacta da planta do chá ou chazeiro, alguns autores indicam as cordilheiras de montanhas entre Yunnan (na China) e Assam (na Índia) mas estudos mais recentes de Hasimoto indicam uma área mais alargada compreendendo a China, o Japão, Burma, Índia e outras regiões da Ásia Oriental.
Os portugueses quando contactaram com esses povos do Oriente conheceram a bebida do chá, já usual nesses territórios há mais de 2 mil anos. Adoptaram a designação de Cantão-tcha que deu origem à palavra chá. Outros povos europeus adoptaram a designação de Tonquim-té, e por exemplo em espanhol designa-se por té e em inglês por tea.
Só no século XVI é que esta bebida e esta planta chegaram ao conhecimento dos Europeus. A rainha Catarina de Bragança, esposa de Carlos II de Inglaterra, filha do nosso Rei D. João IV, e que permaneceu em Inglaterra de 1661 a 1693, foi a introdutora do hábito de beber chá na Corte Inglesa.


III - Tipos de Chás

A preparação do chá permaneceu num segredo durante séculos. Por isso só em 1843 se soube que os diferentes tipos de chás provinham todos da mesma planta. As diversas variedades de chás são determinadas pela procedência, pelo clima, pelas variedades cultivadas e pelo modo de selecção e preparação das folhas. Há 3 tipos fundamentais:
a) Chá branco em que as folhas colhidas dos arbustos terão de ser ainda muito juvenis, quase em clorofila. É o mais raro e o mais caro.
b) Chá Preto, em que as folhas depois de colhidas e murchas são enroladas e cortadas, o que esmaga os seus veios libertando sucos que oxidam ou «fermentam», após o que são secas.
c) Chá Verde em que as folhas são sujeitas a aquecimento em tinas a lume brando ( método tradicional chinês ) para parar a referida oxidação também chamada impropriamente fermentação.  Essa paragem da «fermentação» também pode ser feita por vapor ( método japonês ) sendo a secagem  feita a seguir e tendo-se entretanto feito o enrolamento.
d) Chá Oolong ou semi-fermentado, sendo um tipo de há intermédio entre o chá verde e o chá preto.

          Existem ainda variantes diversas conforme as origens e variedades, as adições de outras plantas aromáticas e Aida as variantes na preparação dos lotes.

IV - A difusão da planta do chá

O registo mais antigo da existência da planta do chá no território português data de 1801 e anota o seguinte: "De Angra do Heroísmo o Governador Conde de Almada mandou para Lisboa dois caixotes com plantas de chá ao Príncipe Regente D. João VI a seu pedido".
É  muito provável que por essa época já existissem plantas de chá não só nos Açores mas também no Brasil. Mas do Brasil só há registos datados de 1812, 1814 e 1816, sendo os de 1812 e 1816 ofertas de plantas ao próprio Rei D. João VI, nessa altura instalado com a sua corte no Rio de Janeiro.
Sabe-se também que o chazeiro foi cultivado na Ilha da Madeira, tendo o cônsul inglês Henry Veich estabelecido uma plantação numa sua propriedade - a Quinta do Jardim da Serra, por volta dos anos vinte desse mesmo século XIX. A cultura na ilha da Madeira desapareceu, mas nos Açores ainda actualmente se mantém. Os açorianos apostaram bastante nesta cultura no último quartel do séc. XIX tendo mesmo sido contratados dois peritos nesta cultura, vindos de Macau, por iniciativa de uma personalidade com peso político nessa época, o Conselheiro Eugénio Correia da Silva.
Na ilha de S. Miguel a cultura do chá foi-se expandindo tendo atingido nos anos 40 cerca de 120 toneladas de produção e nos anos 60 cerca de 300, numa área de 300 hectares. Apesar de  na época actual não haver senão algumas dezenas de hectares desta cultura, é um excelente chá com a prestigiada marca «Gorreana».
Quanto a Portugal Continental também há registos do seu cultivo na região do Alto Minho, dado que planta do chá exige climas amenos e algo húmidos e solos arejados e férteis, condições existentes nessa Província. E foi na região de Coura que foi realizada a primeira tentativa desta cultura por iniciativa de Gaspar Pereira de Castro em 1855 quando regressou do Brasil com um saco de sementes. A sua experiência falhou dado que, por razões familiares, teve de regressar ao Brasil abandonando a cultura, mas não sem ter dado algumas plantas a pessoas amigas das redondezas. Um dos contemplados foi João Fiúza de Matos, de Ponte de Lima que foi um dos núcleos mais importantes da difusão da cultura em Portugal Continental. Essa difusão foi mal sucedida - como seria de esperar - quando prosseguiu no sentido do Sul do País, em que o clima mediterrâneo, de cariz mais seco, não lhe é favorável. E uma Instituição mal aconselhada a fazê-lo foi a própria Casa de Bragança, que fez algumas tentativas com sementes e com plantas transplantadas de viveiros, quer em Vila Viçosa, quer na Quinta do Alfeite, em Vendas Novas e em Almada. Quase todas sem sucesso. A única plantação com algum sucesso - e tem lógica porque aí existe um microclima mais ameno e mais húmido propício às preferências ecológicas desta cultura - foi em Sintra, onde em 1882, D. Fernando II, Rei de origem alemã, viúvo de D. Maria II, mandou plantar vários pés de chazeiro com plantas provenientes dos Açores. Ainda hoje resta no Parque de Pena um local denominado "Alto do Chá" e persistem de onde em onde, por todo o Parque em pequenas clareiras, alguns pés do arbusto do chá e por sinal ainda em razoável bom estado de vigor.
Quanto ao Alto Minho, a cultura manteve-se até princípios do século XX e Júlio Henriques em 1905 publica um livro intitulado "A cultura do chá" e nele refere que o chá se desenvolve no norte da Província do Minho, onde floresce e frutifica sem cuidados especiais. Isso significaria ter ele encontrado, dispersas pela região, algumas plantas, para além duma em especial de grande tamanho e vigor a que se refere e situada em Arcos de Valdevez.
Com o tempo, a cultura do chazeiro em Portugal Continental desapareceu e, na ilha de S. Miguel, tem estado em decadência. Razões de ordem económica, sociológica ou conjuntural poderão ter determinado tal situação, porquanto se sabe que a cultura é tecnicamente possível nalgumas regiões do norte do país e não falta quem nos critique de não aproveitarmos para isso as condições naturais que possuímos e outros não iriam desperdiçar.
A nível mundial, a cultura do chazeiro ocupa actualmente mais de 2,5 milhões de hectares, com uma produção de cerca de 2,5 milhões de toneladas.
Cerca de 65% do chá produzido é consumido nos locais de produção, onde, na maioria, representa a bebida tradicional.
Os maiores produtores mundiais de chá são a Índia, a China e o Sri-Lanka, antigo Ceilão. Curiosamente foi um botânico inglês – Robert Fortune – quem trouxe sementes e rebentos de plantas de chá da China para a Índia e Ceilão, nesse tempo – finais do séc.XIX- ainda colónias britânicas. Os grandes exportadores actuas são a Índia e o Sri-Lanka e a própria China. Também é bastante cultivado na  Indonésia, sobretudo na ilha de Java, na Malásia, na  África Oriental e na América do Sul.
É de referir o lugar importante que os países árabes ocupam como importadores de chá, vedado como lhes está o consumo de bebidas alcoólicas. Os árabes, no geral seguiram como Portugal, o vocábulo «tcha».
A cultura do chá teve uma grande expansão quando os ingleses, no fim do século passado e princípios do actual, a introduziram nas suas colónias africanas e a exploraram com sucesso nas zonas de altitude, como foram os casos do Quénia, Uganda e Niassalândia. A sua experiência transmitiu-se a alguns territórios vizinhos, nomeadamente ao Ruanda--Burundi e a Moçambique. Neste território a planta foi introduzida no princípio do século XX, no Milange, pela Empresa Agrícola do Lugela, sendo a plantação orientada pelo grande negociante de chá londrino, Lipton, que aí mandou construir uma fábrica de preparação, embalagem e exportação desse produto. Também famosa é a marca "Namuli" de chás oriundos de Moçambique. Quanto à marca "Lipton", todo o mundo a conhece sendo actualmente uma multinacional no domínio dos chás. E aqui há que lembrar uma última chamada da atenção: o termo chá alargou-se a infusões de outras plantas que não só da planta do chá. Mas nesta resenha apenas tratámos do chá mais típico que é a infusão elaborada com folhas de Camellia sinensis.

BIBLIOGRAFIA
- J. Eduardo Mendes Ferrão 1992 - A aventura das plantas e os Descobrimentos Portugueses. Ed. I.I.CT. (Instituto de Investigação Científica Tropical) - Lisboa.

- L.J.H. Lawrence 1951 - Taxonomia das plantas vasculares - Ed. Gulbenkian - Lisboa.

- P. Crété - 1965 - Précis de Botanique. Ed. Masson-Paris.

                                

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