Casa do Ribatejo 65

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sexta-feira, 1 de junho de 2012


O Café e a Cafeicultura
 1.Introdução
Tornando-se, cada vez mais, uma bebida familiar, o consumo de café nas suas variadas formas, mas, principalmente, como “bica” ou café expresso, seja em Portugal, seja a nível mundial, tem vindo a aumentar progressivamente, apesar de não ser um bem de primeira necessidade. Nos últimos 40 anos este consumo, quase duplica, passando de 70 milhões de sacas de 60 kgs, para 134 milhões. A produção mundial tem sido inferior ao consumo, situando-se agora nos 129 milhões de sacas, e como os stocks, nos últimos vinte anos passaram de cerca de 56 milhões de sacas para á volta de 13 milhões, presume-se uma boa sustentação dos preços. Prevê-se como zonas de boa evolução de consumo, o Médio Oriente, o Japão a Europa Oriental e a China.
Cafézal a pleno sol, no Brasil, em curvas de nível e em início de floração

Fazendo referência aos cinco maiores produtores, por ordem decrescente, temos o Brasil (arábica)*, Vietname (robusta), Colômbia (arábica), Indonésia (robusta) Etiópia (arábica). Quanto aos cinco maiores consumidores, também por ordem decrescente, estão à cabeça os Estados Unidos da América, seguindo-se o Brasil, a Alemanha, o Japão e a França/Itália que alternam entre si a quinta posição. Como principais países reexportadores, aparecem os Estados Unidos (732.000 tons) e a Alemanha (670.000 tons).
O consumo mundial, por ano, ronda os 131 milhões de sacas e prevê-se que entre 2005 e 2015 cresça entre 1,7 a 1,9%. O país de maior consumo é Estados Unidos da América do Norte, seguido do Brasil e da Alemanha. O consumo per capita, na Europa, é variado, descendo dos 11,7 Kgs na Finlândia para os 4,1 Kgs em Portugal, passando por 8,3 Kgs na Alemanha e 5,8 Kgs em França.
É de referir as expetativas que os países produtores de café depositam no consumo chinês. Acentue-se que o consumo per capita, na China, oscila entre os 200 grs (consumo médio) e os 700 grs, nas zonas urbanas. Acrescente-se ainda, que o crescimento anual do consumo de café na China é de cerca de 20%, apesar de, em média, “um café” custar 2, 5 dólares e aquele país ser tradicionalmente um consumidor de chá. Muita gente ainda não sabe, que a China também já produz café. Neste momento, a sua produção oscila entre as 40 e 50 mil toneladas e está apostada em promover a cultura. (Vidé no fim, foto de um cafeeiro em produção na China, gentilmente cedida pelo CIFC).
Com bastante pena, verificamos que Angola já ocupou, como produtor, a quarta posição mundial, oscilando, entre as 200.000 e as 220.000 toneladas. Nos últimos anos limita-se a uma média de 6.000 toneladas, embora tenhamos lido que a última colheita, atingiu 17.000 tons.
Ciclos distintos de maturação, sendo (Fig. da esquerda) ciclo de maturação precoce e (Fig. da direita) ciclo de maturação tardia.

A nível mundial, a produção de café, (2011), rondou os cerca de 129 milhões de sacas de 60kgs, ficando o seu valor monetário em segundo lugar, logo a seguir ao petróleo. A quantidade produzida é de cerca de 70 a 75%, para o café arábica e 25 a 30% para o café robusta. Porque além do valor monetário envolvido na comercialização do café, há um aspeto social importante, relacionado com os milhares de pessoas que se ocupam com este produto e dele dependem, (trabalhadores rurais, comerciantes, exportadores, técnicos, importadores, etc), a Organização Internacional de Café (OIC), conseguiu que os países produtores e os países importadores, assinassem, em 1962, um Acordo para regular as produções e os preços. Depois de vários anos em vigor, este Acordo, em 1989 foi dado por terminado e retomado só em 2007 As cotações de café a nível internacional são determinadas, para o café arábica na Bolsa de Nova York e para o café robusta na Bolsa de Londres.
Para igual qualidade do produto, o quilograma de café arábica, é cotado entre 40 a 50% acima, do café robusta. A previsão de especialistas aponta para um aumento sustentado da procura na China, no Brasil e na Índia. Para os próximos dez anos, a taxa de crescimento anual do consumo mundial prevista é de 1,7 a 1,9%.
Além de bons preços oferecidos a nível internacional, interessa que, mantendo ou melhorando mesmo a qualidade, os custos de produção não subam, resultado que se tem conseguido com o adensamento da cultura que traduz maior produção por hectare, com a melhoria das técnicas culturais, nomeadamente o incremento da mecanização que, no entanto, carece de boas disponibilidades financeiras.

*O Brasil produz cerca de 70% de café arábica e mesmo só os restantes 30% de café robusta, guindam-no ao segundo lugar mundial como produtor desta espécie, com cerca de 13340 mil sacas. No Brasil, o café robusta é conhecido como café conilon.

2. Espécies de Café. Centros de origem
Da família das rubiáceas e do género coffea, conhece-se quase uma centena de espécies de café, mas comercialmente, só têm interesse duas, a C. arábica e a C. robusta. Outras como Coffea liberica, Coffea excelsa, Coffea racemosa, Coffea dewevrei, Coffea congensis, etc, só interessam, para programas de melhoramento genético, por isso vamos prestar mais atenção às duas primeiras.
 O café (Coffea sp.) tem a sua origem em África, sendo o Coffea arabica originário da Etiópia e o Coffea canephora, também conhecido como café robusta, do Congo.
A cultura do café arábica é praticada principalmente nas Américas Central e do Sul, África do Sul e no leste da Ásia; o café robusta cultiva-se na África Ocidental e Central, no sudeste da Ásia e algumas regiões da América do Sul (Brasil). Como já afirmámos estas duas espécies diferenciam-se em vários aspetos, nomeadamente, nos sistemas de reprodução, número de cromossomas, ciclo e porte da planta, tipo e tamanho dos grãos, tolerância à seca, pragas doenças, constituição bioquímica etc, etc. O melhoramento genético tem permitido o acréscimo da capacidade produtiva, a redução do porte e melhoria da arquitetura da planta, tendo em vista densificar as plantações e facilitar as operações mecanizadas culturais e da colheita, melhoria das características agronómicas etc, etc., embora, como cultura perene, o seu aperfeiçoamento genético seja moroso. 

2.1. Diferenças mais significativas entre C. arábica e C. robusta
Mesmo um leigo que esteja habituado a ver estas duas espécies, facilmente as distingue, mas para pessoas menos familiarizadas, inicialmente, confundem-nas. Comparando uma plantação de cafeeiros arábica e de cafeeiros robusta nota-se:
As folhas de arábica são elíticas, de verde-escuro, brilhantes, enquanto as de robusta se apresentam maiores, mais rugosas e menos verdes. As plantações de arábica são monocaules, enquanto as de robusta são multicaules. As plantas de robusta atingem maior altura que as de arábica. Outras diferenças além das visíveis:
 A espécie C. arabica é autogâmica, e tetraploide apresentando 44 cromossomas (2n=44), enquanto a espécie robusta é auto-incompatível, portanto de fecundação cruzada. Esta é diploide, com 22 cromossomas (2n=22). O período que decorre entre a floração e a colheita é também mais longo para o café robusta. Os grãos de arábica são maiores e de cor cinzento-esverdeada, enquanto os de robusta são mais arredondados e mais acastanhados. O aroma do café arábica é intenso, o do robusta discreto; o sabor do arábica tem uma variedade de nuances, o do robusta é mais único. A acidez do arábica é elevada, a do robusta baixa; a cafeína média do café robusta varia entre os 2 e 3% enquanto a do arábica é de cerca de metade. As plantações de arábica devem situar-se a altitudes superiores a 600 metros enquanto as do robusta vão melhor desde o nível do mar até aos 600 a 800 metros.

3.Melhoramento genético
Como referido, de quase uma centena de espécies conhecidas de café, das quais duas, a Coffea canephora e Coffea arábica, são comercializáveis, só esta última é autogâmica, o que determina uma diferenciação a nível do melhoramento genético A alogamia permitindo a hibridação e o efeito do vigor híbrido ou heterosis, origina descendentes de melhor qualidade que os progenitores, mas por outro lado provoca uma grande variabilidade dos carateres genéticos que, para fixar os mais interessantes, torna o trabalho de melhoramento mais difícil- Para a concretização do cruzamento interespecífico arábica x robusta, uma vez que no primeiro temos nos cromossomas 2n=44 e no segundo 2n=22, torna-se necessário que, neste, se efetue a duplicação cromossómica.
 Aprouve à Natureza que surgisse um híbrido natural, o conhecido Híbrido de Timor (HDT) que apresenta como caraterística principal ser resistente ao fungo Hemileia vastatrix, e também considerado resistente à antracnose (collletotrichum) e aos nematoides
De uma comunicação de responsáveis pelo Centro de Investigação de Ferrugens do Cafeeiro (CIFC) extraímos as seguintes conclusões: “A descoberta do HDT pode dizer-se sem qualquer dúvida que foi um “breaktrough” no trabalho do CIFC (Rodrigues Jr,1960, d´Oliveira &Rodrigues Jr ,1961) permitindo a utilização de um progenitor cruzável com o Arábica e a introdução nesta espécie de genes de resistência à ferrugem. A sua utilização na produção de híbridos como Catimor, Sarchimor e a variedade Colômbia, em larga expansão no mundo, pelas suas notáveis características de resistência à ferrugem, porte baixo, alta produtividade e boa qualidade da bebida, bem como na seleção regional de novas variedades, é facto que decisivamente alterou toda a anterior filosofia de combate à doença com fungicidas. Esta situação é particularmente relevante no caso dos pequenos cafeicultores, onde as despesas adicionais com tratamentos são normalmente descartadas, ou nos casos em que as plantações são em terrenos demasiados íngremes onde não é fisicamente possível realizar qualquer tratamento com fungicidas. Se tivermos em conta a expressão da cultura do café arábica em toda a América Central e América do Sul, donde sobressai o Brasil, apercebemo-nos da importância do Hibrido de Timor e do papel desempenhado pelo CIFC.

4 Técnicas culturais
A primeira medida para uma boa plantação de café, começa pela escolha de um bom solo, de variedades mais adequadas e ainda pela preparação conveniente da semente. Os viveiros, de tamanho apropriado às áreas a plantar, deve dispor de água para regar e ter uma proteção contra os raios solares. A preparação do terreno para plantação em local definitivo, dependerá de este se encontrar ainda como mata ou estar já desbravado, de ser mais ou menos declivoso ou mais plano, carecendo ou não de curvas de nível. Relativamente à piquetagem e consequente densidade de plantação tem-se assistido, nos últimos quarenta anos, por toda a parte, a uma densificação acentuada.
 Nos anos setenta, a recomendação oficial do Instituto do Café de Angola, em geral, era a utilização do compasso 3mx3m (1100pl/ha). No Brasil, também nessa altura, era comum, plantações com 3 a 4m nas entrelinhas e 2,5 a 3m na linha (1100 a 1300pl/há).
Hoje em dia, e sobretudo para o c. arábica, as plantas por hectare atingem 3.000, 5.000, chegando mesmo às 10.000. A cultura dos cafeeiros, no local definitivo, pode fazer-se ou sob a proteção de árvores de sombra ou a pleno sol.
Em Angola a cultura do café é, em geral, sombreada, enquanto no Brasil é maioritariamente ao sol.
É evidente que a segunda opção determina logo maior consumo de fertilizantes, além de outros cuidados quanto às infestantes e conservação do solo. Antes da plantação do cafezal, como para qualquer cultura em grande escala, é recomendável uma análise do solo. A maior parte dos terrenos onde se cultiva o café têm um pH baixo, pelo que se torna usual a prática das calagens.
A fertilização apoiada em resultados das análises de solos e análises foliares tem um papel preponderante, e a dosagem leva em conta a idade das plantas, o seu espaçamento, o maior ou menor sombreamento ou a sua ausência, etc.
 Nos países de tecnologia mais avançada, a mecanização quer da desmatação, quer do coveamento, quer da aplicação de fertilizantes e herbicidas, vai tendo cada vez mais um lugar preponderante, e mesmo a colheita (cujos custos oscilam entre os 40 e 60% do total) está a ser cada vez mais mecanizada quando o declive o permite. A maior propensão para a utilização das máquinas deve, no entanto, ter em conta os nefastos efeitos sobre a compactação do solo. Uma prática cada vez mais vulgarizada em cafezais é a sua irrigação, sendo de registar que um dos seus pioneiros no Brasil, foi um português, João Barata, hoje com 93 anos, que em 1975, saiu de Angola, continuando a sua atividade de agricultor na Bahia.
Registe-se, no entanto, que na ERA (Estação Regional do Amboim) onde trabalhámos de 1971 a 1974, tínhamos, além de outros relacionados com fertilizantes, com capinas, com calagens, etc, um ensaio de rega com diferentes dotações de água e com periodicidades diversas por modalidade. O processo de avaliação destes ensaios de rega foi interrompido em 1975 por motivos sobejamente conhecidos, pelo que não foi possível chegar a conclusões.
A poda também é uma prática importante que, além de ter em conta a idade da plantação, deve antes disso, considerar a espécie em questão ou seja, se se trata de coffea arábica ou coffea robusta.
Citaremos ainda a enxertia que, no caso do cafeeiro, é muito usada tendo como cavalo o robusta que manifesta maior resistência à seca, pragas e doenças, nomeadamente aos nematoides como o Melodogyne.exigua e M. incógnita.

5. Pragas e doenças
A distribuição de pragas e doenças e a intensidade dos seus efeitos, dependentes de fatores climáticos e da disponibilidade de alimentos, (neste caso raízes, tronco, folhas e frutos), é ajudada pelos ambientes agrícolas criados pelo homem que, à procura de produções em grande escala, diminui a diversidade cultural através de grandes extensões de monoculturas, que facilitam o aparecimento de grandes populações de insetos, fungos, bactérias.
A consequente e incorreta utilização de inseticidas, fungicidas, bactericidas, eliminando alguns predadores naturais, criam desequilíbrios difíceis de controlar

5.1 Pragas
Os prejuízos causados pelas pragas, atingem valores avultados e quando não acompanhados convenientemente, chegam a atingir mais de metade do valor das produções. Muitas são as pragas que atacam os cafezais. No entanto, têm maior realce a broca do fruto ((Hypothenemus hampei), tanto para o arábica como para o robusta e além desta, a broca do tronco (Bixadus sierrricola) para o robusta e o (Anthores leuconotus) para o arábica.  Como principal praga das folhas do cafeeiro destaca-se o bicho mineiro (perileucoptera coffeella).
A lista de pragas que se alimentam do cafeeiro é muito mais vasta mas estas são as mais importantes.
A nível das raízes, além do ataque de cochonilhas, há um problema constituído pelos nematoides principalmente o Melodogyne spp  
O ataque das cochonilhas às raízes, e as doenças dos órgãos radiculares são de diagnóstico difícil, não só porque os agentes causais estão encobertos, como também porque os sintomas, manifestando-se em outros órgãos da planta, podem induzir a conclusões erróneas. No caso dos nematoides, a sua presença só pode ser detetada em análises laboratoriais de solos e de raízes.
O combate à broca do fruto é feita, maioritariamente, através de produtos químicos, embora, cada vez mais, se procure a dispersão e o aproveitamento de inimigos naturais, como é o caso da vespa do Uganda (Proropus nasuta) ou a vespa da Costa do Marfim (Cephalonomia stephanoderis) ou a vespa do Togo (Phymastichus coffea) para combate à broca do fruto 

5.2 Doenças
As doenças, atingem também prejuízos avultadíssimos na cafeicultura. Talvez a doença que causa mais prejuízos e preocupações, a nível mundial, seja a doença provocada pelo fungo Hemileia. vastatrix, que ataca as folhas, provocando a sua queda, o enfraquecimento e morte da planta.
As primeiras manifestações datam do último quartel do século XIX, verificadas no Ceilão (Sri-Lanka)
Na década de setenta do século passado, surgiu em Angola e no Brasil. Só no Brasil, a ferrugem causa 35 a 40% de prejuízos anuais, equivalentes a cerca de dois mil milhões de dólares.
Em matéria de estudos tendentes a combater e minimizar esta doença, a nível mundial é de realçar o contributo que tem sido dado pelo CIFC (Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro, em Oeiras) criado em 1955 e cujo primeiro Diretor foi o Professor Branquinho de Oliveira.
 O primeiro objetivo deste organismo foi centralizar o estudo da ferrugem alaranjada (H.vastatrix), principal doença do cafeeiro, num país que, por não cultivar o cafeeiro, não corria o risco de introduzir o agente patogénico com a diversidade das suas raças fisiológicas. Mais tarde, em 1989, os estudos foram alargados a outra doença, a antracnose do fruto, causados pelo fungo Colletotrichum coffeanum. Para o combate a estas doenças, além da utilização de aplicações químicas, tem-se procurado a criação de variedades de cafeeiros resistentes.
 Além da antracnose já referida, temos ainda outras doenças importantes, que atacam as raízes, causadas por fungos dos quais destacamos a Rosellinia spp, a Rizoctonia solani e o Fusarium oxysporium.

6. Colheita
Sendo uma operação dispendiosa na cultura do café, os seus valores variam entre 40 a 60% dos custos totais. O modo como tem sido efetuada evoluiu bastante desde os tempos em que era totalmente manual por ser a mão-de-obra abundante e barata até aos dias de hoje, em que vai escasseando e se torna mais dispendiosa, dando lugar a uma cada vez maior mecanização, pelo menos nos países de tecnologia mais avançada.
Antes de se iniciar a colheita com maior ou menor grau de mecanização prevista, há que fazer uma limpeza do terreno junto aos cafeeiros, tendo em vista deixar um menor número possível de grãos no chão, não só porque o café significa rendimento, como também para evitar que esses bagos sirvam de alimento e alojamento de pragas e doenças, principalmente para a broca do fruto (Hypothemus hampei).
A colheita manual é feita de dois modos ou a colheita a dedo nas plantações com maturação muito desigual (mas pouco usual por ser dispendiosa) ou por derriça manual que é a forma mais habitual.
 A colheita com máquinas pode ser semi-mecanizada ou totalmente mecanizada, através de colhedoras automotrizes ou tracionadas por tratores com as quais se faz a derriça e a recolha dos grãos, seguida de ventilação e ensacamento.
A mecanização total exige: grandes investimentos, grandes plantações, terrenos planos ou ondulados (declives inferiores a 15%), uniformidade de maturação e de altura das plantas, com espaçamentos nas entrelinhas não inferiores a 3,5m.

7.Secagem
O teor de humidade do café, após a secagem deve situar-se entre os 11 e 13%. Quando se pretende reduzir a humidade do café, que na colheita ronda os 60%, para os 11 a 13% pretendidos, pode-se fazê-lo ou por via seca (o fruto colhido é estendido em terreiros), sistema inicialmente praticado e mais difundido, ou então por via húmida, utilizando-se máquinas apropriadas para o seu descasque e despolpa. Nesta modalidade, que origina cafés de melhor qualidade, após o despolpamento o café ou é fermentado para perder a goma dando origem aos cafés lavados ou então não é fermentado antes da secagem e dá os chamados CD´s (cafés descascados)
A perda de humidade consegue-se pela exposição do café ao sol, espalhando-o por terreiros, que podem ser de vários materiais (terra batida, piso revestido de cimento, tijolo, alcatrão, etc). Também se faz a secagem em telas suspensas que permitem maior arejamento e menor tempo de operação e evita o contacto com o solo.
Para além dos terreiros, também são usados os secadores. Estes podem ser: ou do tipo barcaça de leito fixo; ou secadores mecânicos rotativos de posição horizontal ou de posição vertical. A secagem pode, pois, assim ser conseguida exclusivamente em terreiros, exclusivamente em secadores mecânicos e parcialmente em terreiros e depois em secadores.
A opção entre os terreiros e os secadores depende de vários fatores. Os primeiros, preferentemente, são mais apropriados para zonas onde não chove frequentemente e a humidade relativa é baixa, com boa radiação solar na época da colheita. Requerem maiores extensões de terreno. No entanto, os secadores mecânicos necessitam de um investimento mais elevado, embora tenham menor exigência de mão-de-obra e tempo de secagem mais curto.
 Quanto à qualidade do café, obtido de uma forma ou de outra, as opiniões dividem-se. Ao maior contágio de microrganismos quando secado em terreiros é contraposto o cheiro a fumaça dos secadores, por isso, para obviar a este inconveniente, se aconselham os secadores de fogo indireto.
Generaliza-se a ideia de que na secagem em terreiro há o desenvolvimento de microrganismos na superfície dos frutos e aumento de respiração e de temperatura que aceleram o processo de fermentação.
Apesar de a secagem em secadores mecânicos não ter estes inconvenientes, as dificuldades de escoamento do produto dentro deles, motiva a que se defenda um caminho misto, isto é, primeiro, uma pré-secagem em terreiro e depois usando secadores mecânicos. Quando se inicia, a secagem deve ser lenta e o sol tem um efeito positivo, devendo-se, nesta fase, evitar os secadores mecânicos, (até cerca de 20 a 30% de humidade).
Entre os 11 e os 20% de humidade, o café pode ser seco de forma mais rápida, sendo favoráveis os secadores mecânicos. Na utilização destes, recomenda-se:
1º) Operar com o secador a plena carga, mas carregá-lo com o secador apagado;
2º) Usar a fornalha de fogo indireto para evitar o conhecido cheiro a fumaça;
3º) Acender a fornalha com o secador em movimento e a temperatura deve ser inferior a 60º, no caso do robusta e 45º para o arábica.

Os princípios teóricos têm maior ou menor aplicação consoante as disponibilidades financeiras e de mão-de-obra com os naturais reflexos na qualidade do produto obtido.

Qualidade do café
Mesmo sem baixar a pormenores, a classificação do café é um processo importante da sua comercialização. A determinação da qualidade de café tem duas fases distintas, uma classificação por tipos ou defeitos e outra classificação pela bebida. Na primeira das classificações leva-se em conta características físicas tais como impurezas, grãos imperfeitos, brocados, etc. Na classificação pela bebida são apreciadas qualidades sensoriais como o aroma, o corpo e a acidez.
A qualidade do café bebida é determinada logo pela escolha da espécie (subordinada às condições climáticas) e das variedades. Passa pelos tratamentos culturais, tipo de secagem, benefício, pela classificação, armazenagem, loteamento, torra, o grau de moenda, etc, etc . A água utilizada para a feitura do café e até o estado de limpeza da máquina onde se tira o café influenciam a qualidade. Já tivemos ocasião de, pessoalmente, verificar como a limpeza da máquina influência a qualidade da bebida, numa cafetaria pública, em que a marca de café era a mesma, a máquina também e a única alteração, de um dia para o outro, tinha sido a realização da limpeza da máquina.
Das duas espécies mais comercializadas, arábica e robusta, já vimos atrás as suas principais diferenças. Com ligação à qualidade de café lembramos agora que o primeiro é de aroma intenso, sabor com grande variedade de cambiantes, cor esverdeada, alta acidez e menor quantidade de cafeína, contrastando com o robusta que para as mesmas caraterísticas é suave, único, acastanhado, baixo e maior quantidade.
Segundo a Organização Internacional de Café (OIC) há quatro tipos básicos de café:
1) Arábicas suaves colombianos (são arábicas lavados da Colômbia, do Quénia e da Tanzânia)
2) Outros arábicas suaves (boa parte países Centro-americanos, México, alguns países da Ásia)
3)Arábicas do Brasil e Etiópia (arábicas não lavados destes dois países e alguns sul-americanos)
4) Os robustas ( são maioritariamente países de África e alguns da Ásia

Curiosidades
1ª) Muito se tem falado sobre os benefícios ou malefícios de se beber café. Defende-se o seu uso moderado, entre dois a três cafés por dia, dizendo que previne o câncer do cólon, do reto e da pele assim como a doença de Parkinson e de Alzeimer e evita os cálculos biliares. Acentua-se o seu grande poder antioxidante que resulta dos compostos fenólicos e dos ácidos clorogénicos. No entanto, recomenda-se muita cautela às pessoas que sofram de gastrites, úlceras, insónias, hipertensão ou doença isquemia do coração
2ª) Para preparar um bom café usa-se água fresca que não tenha ainda fervido, devendo ser aquecida até próximo dos 90 a 95º, isto é, um pouco antes de atingir a ebulição; não permitindo que ele ferva ou seja reaquecido. Deve evitar-se cafeteiras ou utensílios metálicos  e lavar bem os utensílios usados na feitura do café
3).Muitas pessoas pedem bicas “cheias” convencidas que as chávenas contendo mais água, terão a cafeína mais diluída, portanto com menores efeitos negativos. Informamos que uma bica “curta” (+/-25cc) contém 87,0 mg de cafeína; uma bica “normal” (+/-35cc) contém 94,5 mg de cafeína e uma bica “cheia” (+/- 45cc) contém 98,1 mg de cafeína. Portanto a “bica cheia” tem mais cafeína.

Foto de um cafeeiro na China
Foto gentilmente cedida pelo Centro Internacional de Ferrugens Cafeeiro (CIFC), Oeiras
Como referimos na Introdução, muita gente desconhece que a China, sendo um tradicional cultivador e consumidor de chá, nos últimos anos tem incrementado o cultivo de café e neste momento já produz cerca de 50.000 toneladas deste produto de que temos uma fotografia de um cafeeiro, tirada em Novembro de 2011, por um dirigente do CIFC. Veja-se a sua bela produção.


João do Carmo Lourenço

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