Casa do Ribatejo 65

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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Ode ao início do Jubileu José Venâncio Machado

Caros Colegas,

Por não poder estar presente no almoço de confraternização do nosso jubileu - naturalmente, com grande pena minha, porque teria uma oportunidade única para reencontrar velhos colegas e amigos (velhos no sentido de antigos, não me interpretem mal)- quis preparar uma mensagem especial para vos dirigir, mas faltou-me a inspiração, como é habitual. Fui buscar alguma, inicial, ao Vinício de Morais.

Desejo-vos que passem excelentes momentos de alegria de reencontro, de recordaçâo dos tempos idos e de perspectiva de um feliz jubileu.


Ode ao Início do Jubileu

É melhor estar alegre que estar triste
Alegria é a melhor coisa que existe.
É assim como ter um diploma na mão,
E já não se precisar dele, não.

Mas pra fazer um curso em beleza
Foi
preciso um bocado de tristeza
Foi preciso um bocado de proeza
Senão, não se faz um curso, não

Fazer um curso não foi só estudo,
E quem fez um curso assim não é de nada
É como amar uma pessoa só linda
Da qual não fica muita saudade.

Saudade, sim, ficou,

Dos famosos bailes de agronomia,
Das tortuosas gincanas para a vacaria,
Das alegres garraiadas, com faenas arriscadas,
Das placagens de rugby, com vitórias suadas,
Dos assaltos à guarida, da colega Margarida,
Era natural, estávamos no Carnaval.

Saudade ficou, sim,

Das assembleias de alunos, nas greves académicas,
sessões intermináveis, com votações polémicas.
Do Ionesco, teatro do absurdo, burlesco
Do Zeca e do “severino”  Buarque – válvulas de escape.
Das provas de vinhos. Dos viiinhos de proovas,
Imagem dupla, dupla reprova.

Ficou saudade, sim

Das bactérias gram coloridas com perícia,
Nas aulas inesquecíveis do Pipetas Garcia.
Dos três dias de via-sacra na Serra de Sintra,
Em cada conífera, um ritual de tantra.
Da aula de Navarro, com a filha ao piano,
Lição de fruticultura uma vez em cada ano.

Sim, ficou saudade,

Da brisa pura e fresca da Tapada,
Das macieiras amarguradas, por nós podadas,
Dos jardins floridos,das searas com pardais,
Ambiente propício para os madrigais.
E de tantas coisas aparentemente triviais,
Que não esqueceremos, jamais.

O curso do ISA foi também a arte de encontro,
Embora tenha havido tanto desencontro pela vida,
Eu, por exemplo, vindo da longínqua Goa,
Devo um preito de gratidão a alguns colegas,
Amigos desde os meus primeiros tempos em Lisboa.

Nomoskar*,

Nuno Sousa Costa, “curado” de todos os males
Com “estilo santus” e mel de Gabela,
Meu cicerone e cura, com religião à mistura.
A ti, Augusto S. Lage,augusto de nome e camaradagem,
Um dia inteiro a procurar, um quarto para eu alugar,
Não te recordar, seria um ultraje.

Nomoskar,

José Manuel Caliço, um colega “castiço”,
Um semestre a duplicar em papel químico
Apontamentos ditados de Enologia,
A ti, José da Silva Parreira,
Livro que me emprestaste, ainda caloiro,
Deu capítulo a um livro, imagina ...no final da carreira.

Nomoskar,

aos colegas não mencionados, mas recordados
“Não há machado que corte a raíz ao pensamento”
Dos tempos convosco vividos em estudo e divertimento.
A vós, colegas no feminino, at last but not least,
Então aves raras, de jovialidade e “mist”, 
Nos fizeram parecer curtos, os longos anos do curso.

Longo, sim, foi o percurso pós-curso
Celebremos o repouso, tal como no fim do curso,
Com alegria de termos um diploma na mão
E de não precisarmos dele, não.
Esqueçamos então a flora toda do Lineu,
E festejemos o nosso “início do Jubileu”.

Venâncio

*Nomoskar é uma palavra de saudação respeituosa em concanim de Goa, equivalente a namaskar e namastê em outras línguas do subcontinente indiano. 
Od

2 comentários:

  1. Meu caro José Venâncio:
    Se isto é sem inspiração o que seria com a dita?!
    Para quem pode vislumbrar o ambiente e as cenas evocadas, é simplesmente deliciosa! Linguagem poética para as nossas esfumadas lembranças. Até o pormenor de dissimular o que nos une (a amizade criada no Instituto Superior de Agronomia) ao longo das ricas estrofes!
    Embora fisicamente ausente estarás presente no convívio, todos a lamentarem a tua falta, porque a tua presença seria muito agradável.
    Quando voltas? A missão está a decorrer de acordo com as expectativas?
    Espero que o encontro venha a ser um exaltante espaço de convívio e satisfação. A Margarida, o João e todos os que têm ajudado a manter a chama acesa (tu, em particular) bem o merecem. A turma agradece.
    Recebe um grande abraço
    José M. Caliço

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  2. Machado amigo e colega
    Eu q tive uma fugaz passagem pelo ISA....por forças/razões militares de entao....recordo a tua perspicacia.
    Abraço e obrigado por essa (enorme) veia poetica.
    Abrantes

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