Casa do Ribatejo 65

Casa do Ribatejo 65
Casa do Ribatejo 65

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

RECORDAR É VIVER. MAIS EPISÓDIOS CÓMICOS

O MARQUÊS DE POMBAL  E OS  JESUÍTAS
Na cadeira de Patologia Vegetal  tivemos algumas lições sobre vírus de plantas que eram ministradas pela Dr.ª Maria de Lourdes Borges, na Estação Agronómica Nacional em Oeiras. Como éramos poucos alunos, os professores Raul Cabral e Pinto Ganhão levavam-nos nos seus carros até Oeiras e, no fim de cada lição, traziam-nos de regresso ao ISA.
Numa dessas viagens, ao chegarmos a Oeiras, território em tempos  pertença do Marquês de Pombal que, como é sabido, era também Conde de Oeiras, um dos nossos colegas que ia no carro do Prof. Raul Cabral, talvez porque a viagem tivesse sido muito silenciosa,  resolveu quebrar o  silêncio e  perguntar ao Prof. Raul Cabral se sabia o que tinham uma vez escrito na estátua do Marquês em Lisboa. Como o Prof. nada tivesse dito, ele então exclamou:-  Marquês, Marquês,  salta cá para baixo porque estão cá os Jesuítas outra vez! E soltou umas sonoras gargalhadas.
O Prof. Raul Cabral não esboçou o mínimo sorriso e, como o nosso colega tivesse achado estranho  o  Prof. Cabral não ter dado também uma gargalhada, perguntou aos colegas que com ele vieram no carro se havia alguma razão para isso. Então um deles perguntou-lhe:
- Por acaso reparaste naquele pequeno emblema  que o Prof. Cabral tem no casaco? Se não sabes, ficas a saber que é o emblema que usam os alunos Jesuítas!
O nosso colega ficou “branco” e, um ou dois dias depois,  foi relatar o caso ao Prof. Ganhão, perguntando angustiado:
- Acha que o Professor Raul Cabral me vai “chumbar” por isto?
O Prof. Ganhão riu-se à gargalhada e disse: 
-Não pense nisso! O Professor Cabral tem um grande sentido de humor, embora não pareça.


CHEQUE-MATE!
Durante o tempo em que frequentei o ISA, além dos matraquilhos e do ténis de mesa, jogava também xadrez. Havia nessa altura um colega fanático pelo xadrez que trabalhava no Laboratório de Patologia Veríssimo de Almeida. Era o Botelheiro, figura típica que frequentava o bar e estava sempre a desafiar os colegas para uma partida de xadrez. Numa das vezes em que joguei com ele consegui  ganhar-lhe e, desde essa altura,  não descansou enquanto não me levou a inscrever-me no Sporting, onde ele também jogava. Pelo contacto com os outros jogadores da equipa de xadrez, soube de uma situação caricata, protagonizada pelo nosso amigo Botelheiro.
Decorria um encontro entre o Sporting e um outro clube de Lisboa e, num dos tabuleiros, jogava o Botelheiro. A partida estava muito equilibrada mas qualquer dos jogadores  estava na iminência de levar cheque-mate. Então, a dada altura, o Botelheiro com ar de triunfo, faz uma jogada que deixa o adversário com uma cara de grande espanto e a pensar longamente.
Ao fim de muito tempo, o Botelheiro diz-lhe, com ar de comiseração:
 - É escusado pensar mais meu amigo porque vai ter cheque-mate na próxima jogada.
 Aí o adversário exclama:
- Pois vou, mas você vai ter cheque-mate já! Cheque-mate!!!
O Botelheiro ficou petrificado! Tinha mesmo perdido o jogo...

O ATRASO
Protagonizada ainda pelo Botelheiro, e numa sessão de xadrez do Sporting Club de Portugal, presenciei uma outra situação que levou todos os circunstantes a soltarem umas boas gargalhadas.
Aconteceu durante o campeonato de equipas de xadrez de Lisboa onde eu jogava num tabuleiro e o Botelheiro noutro. A nossa equipa jogava, salvo erro, contra o Ateneu Comercial de Lisboa.
Às 21 horas, quando os jogos deveriam principiar, estavam todos os jogadores convocados à excepção do Botelheiro. As partidas principiaram à hora marcada e o adversário do Botelheiro fez o 1º lance, ficando o relógio a contar. 
Passou meia hora e o Botelheiro sem aparecer. O seccionista estava nervoso porque, segundo o regulamento, qualquer jogador perderia o jogo por falta de comparência, se ao fim de uma hora não aparecesse.
Passaram-se 45 minutos e nada de Botelheiro. Tudo indicava que ia mesmo perder o jogo por falta de comparência.
Eis senão quando, um ou dois minutos antes de se esgotar o tempo, aparece o Botelheiro!...
O seccionista indica-lhe rapidamente o tabuleiro onde ia jogar e, com "cara de poucos amigos" pergunta, qual tinha sido a razão de semelhante atraso, que nunca tinha acontecido.
Então o Botelheiro com o ar mais natural deste mundo, aponta para os pés e diz:
-Sapatos novos...
Realmente, até à sede do Sporting, na Rua do Passadiço, onde funcionava a secção de xadrez,o Botelheiro fazia a parte final do percurso a pé e, nessa noite, teve a infeliz ideia de calçar sapatos novos...

A BOLEIA 
Numa outra sessão de xadrez, desta vez num campeonato interno do Sporting, o Botelheiro estava o jogar uma partida que parecia interminável. Todos os outros jogos já tinham terminado e aproximávamo-nos da 1 hora da manhã, altura em que os jogos que não estivessem terminados teriam que ser adiados.
A situação estava muito equilibrada mas o Botelheiro recusava-se a pedir empate de jogo porque lhe parecia ter algumas possibilidades de ganhar. Por seu lado, o adversário pensava o mesmo e também não pedia empate.
Então, uns 4 ou 5 minutos antes da 1 hora, aparece o porteiro que queria fechar as instalações e pede para terminarem o jogo o mais rapidamente possível. O Botelheiro pede-lhe para aguardar um pouco, porque o jogo estava praticamente no fim. O porteiro diz que não podia esperar porque, para ir para casa, tinha de apanhar o eléctrico e o último era dali a meia hora. Como o adversário do Botelheiro tinha carro, e nenhum dos dois queria adiar a partida, logo se ofereceu para dar uma boleia ao porteiro. Este aguardou mais 10 ou 15 minutos mas, impaciente e a olhar para o relógio, disse que já se estava a fazer tarde e que tinham mesmo de acabar o jogo pois não podia esperar mais tempo.
O Botelheiro, um pouco irritado com a insistência, diz: 
-Não ouviu dizer que lhe vão dar boleia até casa?
-Sim, diz o porteiro, mas olhe que eu moro no Alto de S.João!
Então o Botelheiro diz:
-Ó homem! Descanse que, se for preciso, até o levamos ao jazigo!...




José Constantino Sequeira

Sem comentários:

Enviar um comentário