Quanto mais conheço os homens ...
Desde os tempos em que eu era miúdo, sempre gostei muito de cães e apreciei a sua amizade e lealdade, mesmo tendo em conta que dois deles, para quem eu era estranho, me tivessem mordido.
Vou agora citar umas “estórias” relativas a três destes animais, com os quais estabeleci amizade, enquanto frequentei a Tapada, no ISA.
Em primeiro lugar e até porque era o mais afidalgado dos três, falarei de um Setter, com os seus pêlos longos e a sua coloração purpúrea, de seu nome Skin d´Ouro, que pertencia a uma família bem, que vivia na Tapada e de vez em quando, enquanto eu estudava nos bancos dos jardins que circundavam o ISA, eu via-o passar acompanhando uns jovens que eram seus donos.
Tendo percebido que se chamava Skin d`Ouro, passei a chamá-lo pelo nome e foi com alguma surpresa que o vi, muitas vezes, aceitar o meu chamamento, em vez do dos donos. Aconteceu com frequência, eu entrar em minha casa na Calçada da Tapada, ele ficar, à porta, esperando por mim.
O segundo cão a ser lembrado, era um rafeiro, que pertencia ao porteiro do ISA. Passei por ele várias vezes tentando “travar conhecimento”, mas o bicho não me ligava “nenhuma”, até um dia, em que ao ouvi-lo ladrar desesperadamente, me aproximei para perceber o que se passava. Vi então que ele ladrava contra um gatarrão, que impávido e sereno não se amedrontava, embora mantendo o olhar atento aos movimentos do cão. Espantei o gato e isso serviu para que o cão o tivesse perseguido até ao momento em que o felino voltou a parar, fazendo também estancar o canino.
A partir desse dia ficou selada, entre nós, uma amizade que nos fazia andar juntos, frequentemente, até mesmo no pátio interior do ISA. Em determinado dia, após a chamada para uma aula de Zootecnia com o Professor Pais de Azevedo, entrámos na sala, sentámo-nos mas, estranhamos que o Catedrático tivesse feito uma grande pausa e anunciasse que havia um aluno presente que ele desconhecia. Os alunos entreolharam-se demoradamente, até que o Professor, apontando para debaixo da minha cadeira, disse que estava ali o aluno desconhecido. Pedi desculpa pelo sucedido e fui pôr o cão fora da sala.
O terceiro canino, pertencia ao Sr. Caetano, que possuía uma tasquinha onde muitos alunos do ISA costumavam tomar as suas refeições. Não sei como nasceu a nossa amizade e o nosso convívio que, no entanto, sofreu um hiato com a minha ida para Angola, durante dois anos, para cumprir o serviço militar.
Depois de regressado a Lisboa, em certo dia, percorrendo o passeio da Calçada da Tapada vi, ao longe, caminhando em sentido contrário ao meu, o tal amigalhaço canino. Deliberadamente, não me manifestei, passámos um pelo outro e ainda ele não percorrera quatro ou cinco metros, voltou rapidamente para trás e ganindo dava saltos de corça, para me cumprimentar.
Digam lá que não tinha razão quem um dia comentou: “Quanto mais conheço os homens mais gosto dos cães”?
João Lourenço, quanto mais leio os jornais, mais gosto dos teus episódios. Continua, para fazernos esquecer (por uns momentos pelo menos) as tragedias, desfalques e oportunismos, as carestias da vida, etc, etc
ResponderEliminarUm blogaço do Venancio