José Alves Ribeiro-Prof. emérito-UTad
1 - Área total de vinha
Em diferentes sistemas de implantação existem nesta região vinhateira cerca de 45.000ha de vinha, registadas no IVDP – Instituto dos Vinhos do Douro e Porto nos seus serviços de cadastro herdados da «Casa do Douro» e registados os parâmetros de pontuação em classes de qualidade de A a G, sistema esse destinado à distribuição do benefício, ou seja da autorização para a elaboração de vinho do Porto.
2 - Densidade de vinha
A densidade média na região é de 18% (45.000ha em 250.000ha da área geográfica) sendo o Baixo Corgo a sub-região com maior densidade de vinha na paisagem (30%), descendo para 17% no Cima Corgo e para 5% no Douro Superior. Notar porém que é nesta última que a vinha está em maior expansão - será com certeza a sub-região do futuro na grande região vinhateira do Alto Douro.
3 - Sistemas de implantação dos vinhêdos
Existem actualmente cinco ou seis sistemas diferenciados de implantação dos vinhêdos, marcando diferentes épocas tecnológicas, sendo o mais ancestral de todos o geio ou socalco clássico, com paredes de xixto, da época pré-filoxérica, estreito, plano e com uma ou duas linhas de videiras, surgindo a seguir o geio ou socalco pós-filoxérico, dos inícios e meados do século XX, ainda com paredes de xisto mas mais inclinado, embora atenuando o declive das encostas, e com mais linhas de videiras, sendo ainda o predominante em área, sobretudo na sub-região do Baixo-Corgo. Entretanto já são bem patentes na paisagem os sistemas mais recentes, fruto da grande reconversão iniciada nos anos 80, preparando os vinhêdos para a mecanização e que se dividem em três tipos: a vinha em terraços ou patamares de duas linhas de videiras e sem muros ou seja com taludes de terra, o sistema denominado «vinha ao alto», sendo a vinha plantada segundo o maior declive, apenas aconselhado em declives até 35% e mais recentemente está a emergir um novo sistema de terraços com taludes de terra mas de uma só linha de videiras. Podemos ainda considerar como sexto sistema a moderna vinha de compasso mais largo e mecanizável, implantada em zonas sub-planálticas, sendo uma variante da moderna vinha ao alto mas em situações de ténues declives.
Iremos detalhar um pouco cada um destes sistemas, com a ressalva de que as áreas indicadas para cada um serão apenas uma ordem de grandeza, pois não tive acesso a cadastros precisos, tanto mais que estas reconversões estão ainda em curso. Deixo um repto ao CEVVD ( IVV ) para elaboração de um cadastro deste tipo para a nossa região.
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3.1 - Vinhas clássicas a maioria com muros ou paredes de xisto (27 000 a 30 000 ha) e compassos estreitos (elevada densidade de cepas)
Tipos de vinhêdos:
a) Geios ou socalcos estreitos e planos com 2 a 3 linhas de videiras e 5 500 a 6 000 videiras por ha (vinha pré-filoxera)
b) Geios ou socalcos largos com alguma inclinação com as linhas de videiras segundo as curvas de nível com vários bardos e 5 000 a 5 500 videiras por ha (vinha post-filoxera).
Quinta da Côrte – (Cima Corgo)
À esquerda - Vinha pré-filoxera. À direita – Vinha post-filoxera
Quinta da Côrte – (Cima Corgo)
À esquerda - Vinha pré-filoxera. À direita – Vinha post-filoxera
Sistemas de condução mais usados: Guiot, vara e talão, talões; compassos de 1,1 a 1,5m; esteios de lousa e dois arames.
Número de gomos de poda: 6 a 10 no Douro Superior, 8 a 12 no Cima Corgo, 10 a 14 no Baixo Corgo.
Métodos de controlo de infestantes mais usados: 2 a 3 mobilizações anuais (escava, cava e redra) com tracção animal, por vezes complementado com trabalho manual e também a alternância de uma ou duas mobilizações com uso de herbicidas.
3.2 - Sistemas mais recentes de implantação em compassos largos (1,8 a 2,5m) e menores densidades de cepas (15 000 a 18 000ha)
a) Vinha em terraços ou patamares com taludes de terra e duas linhas de videiras por patamar – 8 000 a 10 000 ha - com 3 500 a 4 000 videiras por ha.
b) Vinha em terrraços ou patamares com taludes de terra e uma só linha de videiras – 3 000 videiras por ha – sistema ainda com pouca expressão em área.
c) Vinha ao alto – 4 000 a 5 000 ha - com 3 700 a 4 200 videiras por ha
d) Vinha moderna de compasso largo sem paredes nem taludes, em terreno mais ou menos horizontal (várzea ou sub-planalto) – 3 000 a 4 000 ha - com 3 700 a 4 200 videiras por ha.
Número de gomos de poda - 8 a 12 no Douro Superior, 10 a 14 no Cima Corgo, 12 a
16 no Baixo Corgo.
16 no Baixo Corgo.
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Sistema de condução mais usados: Guiot e cordão mono ou bilateral. Compassos de
1,8 a 2,5 m; esteios de lousa, madeira tratada ou metal e dois a três arames, predominando três.
1,8 a 2,5 m; esteios de lousa, madeira tratada ou metal e dois a três arames, predominando três.
Métodos de controlo de infestantes mais usados nas vinhas modernas:
a) Mobilização mecânica
b) Mobilização mecânica complementado com o uso de herbicidas, sobretudo nas linhas e roçagem mecânica dos ervados das entrelinhas, técnica felizmente em franca expansão.
c) Controlo de infestantes nos taludes num sistema misto, com uso de herbicidas.
d) Controlo de infestantes nas linhas com herbicidas e nos taludes mecanicamente, isto só possível no moderníssimo sistema de terraços de uma só linha de videiras.
Vinha em terraços - Quinta de S. Luis Vinha ao alto – Quinta do Seixo – Cima Corgo
Vinha em terraços - Quinta de S. Luis Vinha ao alto – Quinta do Seixo – Cima Corgo
4 - Castas mais importantes
Castas tintas: touriga nacional, touriga francesa, tinta roriz, tinta barroca, tinto cão, tinta amarela, tinta francisca, tinta da barca, mourisco, sousão, bastardo e rufete.
Castas brancas: malvasia fina, donzelinho, viozinho, verdelho, gouveio, códega ou malvasia grossa, esgana-cão, rabigato, moscatel galego, folgasão, arinto e cerceal.
5 - Estrutura fundiária
Nos seguintes dois quadros ficam explicitados os dados estatísticos que, de um modo sintético, nos caracterizam o perfil da estrutura fundiária desta região.
Quadro 1 - Distribuição das áreas
Área total da região demarcada
(área geográfica) 250.000 ha
Área total de vinha na região demarcada 45.000 ha
Número total de cepas 20.000.000
Número de viticultores 30.000
Média de área por viticultor 1,5 ha
Produção média por hectare 7 pipas
Quadro 2 - Distribuição das produções
Até 1 pipa (550 litros) 20.7 % dos viticultores 14,4% da produção
De 1 a 2 pipas 17.2% dos viticultores 14.9% da produção
De 2 a 4 pipas 18.3% dos viticultores 19.1% da produção
De 4 a 10 pipas 24.4% dos viticultores 25.6% da produção
De 10 a 20 pipas 12.0% dos viticultores 15.3% da produção
De 20 a 50 pipas 6.8% dos viticultores 8.8% da produção
Mais de 50 pipas 1.2% dos viticultores 2.4% da produção
Esta estatística demonstra bem o carácter minifundiário desta região.
6 – Estrutura da produção e comercializão dos vinhos, custos e preços médios
Número de Adegas Cooperativas.......................23
Número de Empresas Exportadoras...................25
Número de Produtores-Engarrrafadores...........246
Custo médio de investimento...20 000 a 30 000 euros por ha
Custo médio de produção..300 a 500 euros por pipa - 2 000 a 3500 euros por ha
Preços médios pagos ao viticultor:
uvas para vinho do Porto - «benefício»...800 a 1200 euros por pipa
uvas para vinho de mesa corrente...........150 a 300 euros por pipa.
Estes elementos que, no que respeita a custos e preços, também ordens de grandeza com grandes variações, a começar pelas condições de produção anualmente verificadas, evidenciam uma demasiada discrepância, evidenciam os ruinosos preços pagos pelas uvas para vinhos de mesa correntes, dados os custos de produção na região explicados pelas condições de vinha de encosta e de baixas produtividades e também fica evidente a demasiada dependência da economia vitivinícola duriense das grandes empresas exportadoras, do «chapéu protector» do denominado «benefício», a cobrir os custos da parte da produção que o não tem. E o que é ainda mais perverso é que as empresas jogam muitas vezes com o «favor» de ficarem «também» com as uvas para vinhos de mesa como base negocial, devastadora como é óbvio para o preço dessas mesmas uvas, sabendo nós que no mercado os preços dos vinhos de mesa durienses de média e grande qualidade se aproximam e mesmo ultrapassam os dos vinhos finos. Acresce ainda a este quadro, não de todo positivo, a crónica dificuldade de grande parte das Cooperativas em fidelizarem melhor os seus associados, aliada à falta de capacidade de reinvestimento para um patamar mais próximo das grandes empresas em termos de estrutura, rapidez nos pagamentos e capacidade de gestão e de «marketing». Este declínio vem de certo modo acompanhado pelo declínio da Associação de Viticultores, a nossa «Casa do Douro», impulsionadora do cooperativismo duriense nos já longínquos anos 50 e 60, detentora única, até aos anos 90, do cadastro das vinhas da região, condicionador da atribuição do «benefício» e ainda detentora de um valioso «stock» de vinhos do Porto velhos, mas que actualmente se encontra numa penosa sutuação, financeiramente debilitada, e adiando-se demasiado tempo a urgência de reconversão desta Instituição noutro tipo de organismo ao serviço da lavoura duriense, mais de apoio directo e próximo aos viticultores, aos pequenos produtores-engarrafadores e, na senda da sua valiosa tradição, às próprias adegas cooperativas, não deixando de ser um prestimoso e legítimo «loby» na defesa dos interesses da lavoura duriense junto das instâncias competentes.Tem o recurso de procurar procurar algum desafogo financeiro na venda racionada – para não desiquilibrar o respectivo mercado – de vinhos finos velhos de altíssima qualidade. Também é notória a elevada dispersão dos produtores-engarrafadores, que deveriam seguir o raro exemplo de apenas dois ou três casos de empresas produtoras-engarrafadoras que são parcerias bem organizadas entre diversas quintas e respectivos vinhos de alta qualidade, atingindo deste modo boa capacidade de «marketing», de comercialização e até de exportação.
( a) Vinho do Porto denominado também na região de vinho generoso, vinho tratado ou vinho fino, enquanto o vinho de mesa também é conhecido como vinho de pasto ou vinho de consumo.
(b) 1,5 pipa por milheiro nas vinhas clássicas e 2 pipas nas vinhas modernas. Este aumento de produtividade, devido a melhorias técnicas e ao uso de melhores clones, tem sido acompanhado - situação rara em viticultura-de melhoria na qualidade dos vinhos, também devido a aperfeiçoamento nas técnicas enológicas assim como ao balizamento (até talvez excessivo) das novas plantações a um reduzido leque de castas consideradas as mais nobres. 3
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