por João Lourenço
Uma vez, estava a turma já na aula à espera do Catedrático da cadeira Mesologia e Meteorologia Agrícola, o Professor Frazão, em ambiente muito barulhento, de tal modo que quando o senhor chegou, fez uma expressão carregada, de pouca satisfação.
O Dourado, que se sentara a meu lado e junto do Edwin, que viera de Goa, também com sotaque muito próprio, virou-se para nós e cochichou:
-“O professor tá fiúlo pá”.
O Edwin que não tinha percebido o conteúdo da frase perguntou-lhe :
-“O que estás a dizer?”.
Apesar do Dourado ter repetido a mensagem algumas três vezes, não se fez entender, o que já estava a irritar quer um quer o outro.
Afinal a tradução do que ele dissera, resumia-se a “o professor está fulo pá”.
De outra vez, numa aula de Microbiologia, o Professor Garcia, mais conhecido pelo “Pipetas”, tinha escrito no quadro preto, em numeração romana de I a X uma classificação já não sei de que espécie, mas, por lapso, omitiu o ponto IX.
O Dourado, que estava no fundo da sala, apercebeu-se da falha e como gostava de protagonismo, rapidamente exclamou, a seguinte frase:
“Oh! senhor professor e então o nuno”?
Como o Professor Garcia não percebera a mensagem, ele repetiu várias vezes “e o nuno” “e o nuno”? (Esclareço que o que ele queria dizer era o nono(ponto IX que faltava, mas a sua pronúncia açoreana soava a nuno).
Um colega, o Nuno Larchet que se encontrava nas primeiras filas, virando-se para trás e já incomodado com a insistência, perguntou ao Dourado:
-“Mas o que é que queres, pá”?
Foi uma cena algo hilariante, com o Professor e o Nuno sem perceberem o que pretendia o Dourado, quando afinal, este só estava a perguntar pelo conteúdo do item nono, de que o professor se esquecera.
Outro colega da Madeira, o Barrinhos, como o tratávamos, algumas vezes teve dificuldade em se fazer entender ao proferir a seguinte sonorização:
-“Dámelame, pá”.
Só depois de várias insistência, ao mesmo tempo que exibia um cigarro entre dedos é que os interlocutores se apercebiam do que ele queria dizer:
-“Dá-me lume pá”.
Com outro colega, vindo no ano anterior de Goa, a falha de comunicação não resultou da pronúncia mas da expressão - calão que ouvia usar com frequência, mas no plural, e ele naquele caso concreto, utilizou-a no singular. O Venâncio Machado, natural de Goa ouvia, em Portugal, as pessoas dizer, isto vale “vinte paus” aquilo custa “dez paus”.
Um dia foi à estação dos correios (CTT) e como a taxa para expedição de uma carta para Portugal continental era de um escudo, ele pediu à senhora que o atendeu, que lhe fornecesse um “selo de um pau”. Gerou-se entre os presentes um certo ar de gozo e a funcionária olhou desconfiada, para o Venâncio, tentando perscrutar se ele estava a brincar ou se estava, inocentemente desenquadrado, fora dos termos do calão.
O seu aspecto de quem vinha de fora do País, valeu-lhe que a funcionária concedesse o benefício da dúvida quanto a uma hipotética atitude provocante.
P.S Registo com pesar, que três dos colegas aqui referidos já não estejam no número dos vivos
Oh João, Apenas uma incorreccão a propósito dos paus.Estás desculpado, porque quem conta um conto acrescenta um ponto. A cena foi passada na Estudantina, na Rua da Industria, com o sr Fernandes e presença do Nuno.
ResponderEliminarJosé Venâncio