O ano lectivo 1961/62
por João Lourenço
O ano lectivo 1961/62 tornou-se célebre pelo chamado “luto académico” com a prolongada greve dos estudantes às aulas e aos exames. Politicamente o país aqueceu.
O Professor Marcelo Caetano pedira a demissão do cargo de Reitor da Universidade, houve a invasão das instalações universitárias por parte da polícia e a prisão de muitos estudantes. Foi um ano escolar muito agitado.
Como o terceiro período estava a ser anormal, com a ausência dos alunos à 2ª frequência, o que acarretaria o “chumbo” de dezenas de alunos, porque não haveria acesso ao exame final, o Professor Frazão permitiu a realização de uma 3ª frequência, excepcional, à cadeira de Mesologia e Meteorologia Agrícola.
Decorria a prova escrita dessa frequência “excepcional” de tarde, na sala em anfiteatro cheia de alunos, fazia calor e o Professor, homem bem redondo nos seus mais de cem quilos de peso, começou a entrar numa sonolência que, com frequência, lhe cerrava as persianas oculares e o fazia cabecear repetidas vezes.
Os mais audazes, que mesmo com o Professor acordado, não hesitariam em consultar umas cábulas, acharam que aquela postura pacífica do Mestre, constituía um verdadeiro convite a um copianço que nalguns casos já nem era discreto.
À minha frente o Gabriel Gonçalves, poisou as folhas ciclostiladas no chão, junto a ele, descalçou o sapato e, com o dedo grande do pé, virava as folhas do compêndio, à medida que avançava na consulta.
Como as cadeiras onde estávamos sentados tinham um braço que terminava numa espécie de bandeja para suporte do caderno onde escrevíamos os pontos, houve um colega que não se coibiu de pegar no compêndio (constituído por uma série de fascículos dactilografados pela Associação), colocou-o debaixo do caderno onde escrevia, manejando ambos à medida que se servia. A certa altura, este colega descuidou-se e as folhas caíram com grande estardalhaço, despertando o Professor da sua sonolência. A atrapalhação do infractor que seria assim “apanhado com a boca na botija”, era grande e por toda a sala (direi quase toda) gerou-se, rapidamente, um ambiente de expectativa, que foi quebrado de imediato pela calma, pela frieza do colega José Quinta Queimada Lampreia que, pondo-se de pé, se dirigiu ao Professor, ainda meio aturdido pelo barulho que o desassossegara do seu dormitar, nestes termos:
-“Senhor Professor, em meu nome pessoal e com certeza no dos meus colegas, agradecemos-lhe a oportunidade que nos concedeu de realizarmos este exame suplementar, sem o qual teríamos inevitavelmente comprometida a realização da cadeira.”
O Professor sensibilizado, terá ficado satisfeito com a manifestação de gratidão dos seus alunos e entretanto aquele que havia deixado cair as folhas e provocado o estardalhaço, aproveitou a ocasião para ir apanhando, rapidamente todo o material espalhado pelo chão.
João,
ResponderEliminarE quando nós, maldosamente, batemos com o pé no chão, todos ao mesmo tempo, no momento em que o professor Frazão deixou cair o ponteiro, fingindo que íamos apanhar o ponteiro,apesar de ainda antes de ele pegar o ponteiro, já estarmos todos sentados! Por esta indelicadeza o prof Frazão pôs-nos lá fora,mas nós depois pedimos desculpa e ele perdou-nos.
Maldades inocentes da juventude. Margarida